Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
Morales, Raquel Saad de Avila |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-31082023-094601/
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Resumo: |
Esta pesquisa investigou o discurso produzido sobre a loucura na Revista Médica de S. Paulo: jornal prático de Medicina, Cirurgia e Higiene, que circulou no estado de São Paulo entre 1898 e 1914, alcançando ainda outras cidades do país e do estrangeiro. Esta revista médica, junto a outros periódicos especializados, instituições médico-sanitárias e eventos científicos, foi um importante objeto da comunidade médica paulista e teve relevante papel na organização e fortalecimento da categoria, na luta pela regulamentação da profissão, nas disputas médico-legais frente aos juristas e na própria fundação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1912). Naquele momento histórico, os médicos buscavam a legitimação de sua autoridade nos métodos e terapêuticas aplicadas nos indivíduos adoecidos e, preventivamente, na população em geral, na tentativa de moldar uma nação produtiva e dócil que auxiliasse na consolidação do Estado nacional brasileiro. A partir da seleção de todas as publicações que diziam respeito à Psiquiatria, Neurologia, Medicina Legal e Psicologia na Revista Médica de S. Paulo, emergiram três temas-chave Hospício e alienação; Gênero e sexualidade; Raça, crime e leis e, com base nesses recortes, categorias de análise em que as publicações foram descritas e costuradas. A metodologia utilizada inspirou-se na historiografia crítica, especialmente no método de investigação da lógica histórica proposto por Thompson (1978/1981), e aplicou ferramentas linguísticas sugeridas por Krieg-Planque (2012) para o exercício de análise do discurso feito nas publicações selecionadas. A hipótese desdobrada é que o discurso psiquiátrico na Revista se estruturou em uma avaliação moral de comportamentos sociais considerados desviantes, fundamentada em um padrão de normalidade ancorado na invenção de um modelo de família nuclear burguesa, do racismo científico e de uma sociedade inexoravelmente capitalista, em que o rico e o pobre, o branco e o negro, o homem e a mulher deveriam reproduzir papéis sociais prescritos, abstratos e a-históricos, hierarquicamente desiguais. Os médicos, assim, se colocaram como modelo para a produção de uma verdade universal sobre corpos, comportamentos e subjetividades de pessoas, famílias, grupos e populações, estruturando, no discurso médico-paulista, um paradigma de racionalidade que criou, ao mesmo tempo, seu oposto: o selvagem, o louco, o degenerado. Ao longo da Primeira República, a Medicina disputou com o Direito prestígio social e poder político para conseguir também deliberar sobre questões que diziam respeito à administração pública e ao controle do corpo social nacional, buscando desqualificar outras práticas de cura ligadas aos saberes populares e submeter outras profissões da área da saúde a sua autoridade, a fim de galgar seu caminho rumo ao sacerdócio científico. |