Escorpionismo na Amazônia: a epidemiologia, a clínica e a vulnerabilidade aos acidentes escorpiônicos em Rurópolis, Pará, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Cardoso, Fernanda Jacqueline Teixeira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7143/tde-23022021-121102/
Resumo: Introdução: O acidente escorpiônico é um grave problema de saúde no Brasil e, especificamente, no Oeste do Pará onde ocorre severo e agudo comprometimento neuromuscular, diferenciado dos demais acidentes no mundo. A ocorrência do escorpionismo na Amazônia carece de análise aprofundada sobre os contextos individuais e coletivos que estão envolvidos nos acidentes. Objetivo: Analisar os aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes escorpiônicos ocorridos no município de Rurópolis, Pará, propondo uma matriz de marcadores de vulnerabilidade. Método: Estudo multimétodo com abordagens qualitativa e quantitativa, observacional, descritivo e prospectivo. Foi realizado acompanhamento em tempo real de 117 vítimas de escorpionismo atendidos no Hospital Municipal de Rurópolis, Pará, no período de outubro de 2016 a setembro de 2017. Os dados foram coletados a partir do questionário aplicado aos pacientes e acompanhantes, de registros dos prontuários e das fichas de notificação. A discussão dos dados foi feita à luz do conceito de vulnerabilidade tendo por referência teórica a Determinação Social do Processo Saúde e a Epidemiologia Crítica. Resultados: Homens, mulheres e crianças se acidentam em contextos e espaços diferentes. No entanto, os homens (75,20%), negros (84,62%), da faixa etária adulta (50,45%), agricultores (49,57%) são as principais vítimas. Os acidentes ocorreram nos meses de abril a junho (41,87%), em área rural (45,30%), no período matutino (41,02%), durante o trabalho (50,42%) e envolvendo escorpião preto (88,07%). A escorpiofauna do estudo foi composta por T. obscurus e T. strandi. Por meio da evolução clinica pôde ser verificado que seus venenos ultrapassam a barreira hematoencefálica, chegam imediatamente ao sistema nervoso central e causam disfunção cerebelar aguda. Entre os acidentados, um sofreu picada seca e os demais manifestaram sintomas locais (79,49%) e sistêmicos (82,91%), sendo que dor, parestesia e sensação de choque elétrico pertenceram às duas categorias. As manifestações neuromusculares (ataxia, disartria, mioclonia, dismetria, tremores e astenia), oftalmológicas (visão turva e hipotonia palpebral) e cardiorrespitarórias (hipertensão arterial e taquipneia) foram mais exuberantes. Os sintomas diplopia, sensação de areia nos olhos, disgeusia, espasmo faríngeo e convulsão são descritos pela primeira vez em escorpionismo na Amazônia. Os marcadores de vulnerabilidade coletiva e individual se entrelaçam e transitam nas dimensões. A vulnerabilidade coletiva foi evidenciada pelo modo de produção e reprodução social dos grupos, pela constatação da tríplice inequidade, além de fragilidades no serviço público de saúde em todos níveis hierárquicos que restringem o acesso à uma assistência segura e de qualidade. A vulnerabilidade individual se expressa nas características pessoais que conferem proteção ou desgaste e nas condições clínicas que predispõem ao agravamento. Conclusão: Aspectos sociais, econômicas, ambientais e de acesso às políticas públicas compõem marcadores de vulnerabilidade dos indivíduos ao acidente por escorpião. A disfunção cerebelar aguda, manifestações oftalmológicas, cardiorrespiratórias, digestivas e urinárias ocorrem em envenenamentos por escorpiões pretos e amarelos. O antiveneno disponibilizado no Brasil não é eficaz para reduzir o tempo de duração dos principais sintomas neuromusculares, podendo causar quadros alérgicos. O T. strandi também é um escorpião de importância clínica na Amazônia.