Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Souza, Sheila Perina de |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-13122024-120723/
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Resumo: |
Angola, Brasil e Moçambique, embora impactados pela colonização e por processos necropolíticos (Mbembe, 2016) no campo das línguas, desenvolveram estratégias de reexistência (SOUZA, 2011). A formação das variedades locais do português nesses países representa uma dessas manifestações. Inspirados em Gonzalez (1988) eMingas (2021), compreendemos o \"pretoguês\" como um conjunto de variedades populares do português influenciadas pelas línguas africanas. Assim, esta tese reflete sobre a presença do pretoguês nos anos iniciais da educação básica, com o intuito de contribuir para que a aprendizagem da leitura e da escrita não signifique um rompimento com o mundo trazido de casa, concretizando a leitura da palavra-mundo (Freire, 1991). O objetivo geral é analisar as imagens do português influenciado pelas línguas africanas nos discursos de professoras de escolas brasileiras, angolanas e moçambicanas. Também investigamos documentos curriculares que abordam o ensino da língua portuguesa nesses contextos. Optamos pelas entrevistas semiestruturadas (Ludke e André, 2013; Manzini, 2004) e para a análise, adotamos a análise do discurso de linha francesa (Pêcheux, 1997). Também utilizamos o estudo das atitudes linguísticas no discurso (Schlieben-Lange, 1993) e nos baseamos em Mufwene (2016) para argumentar que as construções classificadas como erros pela escola, por se afastarem da norma padrão, fazem parte de um processo evolutivo do português, resultante do contato com as línguas africanas. Verificamos que, nos documentos que tratam do ensino do português nos anos iniciais nos três países, há um silenciamento em relação às contribuições das línguas africanas na formação do português local. Observamos nos discursos das professoras moçambicanas entrevistadas uma certa inclusão das línguas africanas na escola, mas também persiste uma visão purista que separa estritamente o uso do português e das línguas locais. Além disso, há um estigma associado a certas construções do pretoguês moçambicano. Em Angola, o discurso das professoras entrevistadas revela uma profunda tensão entre o discurso de valorização das línguas africanas e as atitudes linguísticas. No discurso dessas professoras, verificamos a imagem de que as variedades locais do português angolano são \"vazias\" e necessitam ser \"preenchidas\". No Brasil, observamos que o modo de falar dos alunos é relacionado à imagem de uma \"questão\" a ser resolvida. Além disso, há uma ausência de reconhecimento da influência africana no português brasileiro e um conhecimento limitado de alguns termos lexicais, frequentemente de maneira fetichizada. Diante desse cenário, para discutir a problemática do estigma que envolve o uso dessas variedades populares do português influenciadas pelas línguas africanas, fruto do contexto colonial, propomos uma abordagem interseccional (Crenshaw, 2002), que destaca a necessidade de reconhecer as raízes interconectadas da discriminação na língua. Evidenciamos que a estigmatização do pretoguês no contexto escolar é resultado de um sistema amplo de opressão racial, social e étnica, que, portanto, não se restringe somente ao preconceito ou ao racismo linguístico. Apontamos que o reconhecimento dessa teia de opressões presente no discurso dos professores e nos documentos oficiais é um passo crucial em direção à incorporação (Barzotto, 2004) do pretoguês na escola. |