A fome entre os mapas: território marginalizado e de gente marginalizada (reflexões sobre o fazer cartográfico)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Kernbichler, William
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-17022025-091141/
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar como os mapas poderiam ajudar a entender a relação contraditória entre fome e superprodução de alimentos no Brasil, além de contribuir para ações de diagnóstico, monitoramento e avaliação de programas de saúde e nutrição, cujos determinantes abrangem uma variedade de condições socioeconômicas, culturais e ambientais da população brasileira, fortemente marcada pela desigualdade e exclusão social. O fracasso no combate à fome em todo o mundo permanece sendo um grande entrave em nosso processo civilizatório e, ao mesmo tempo, um grande tabu. No Brasil pós-covid-19, a Insegurança Alimentar regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990, anterior à implementação dos Programas Bolsa Família e Fome Zero. Considerando a imensa complexidade do atual panorama brasileiro da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), uma parcela muito significativa dos estudos sobre a fome considera que o grande gargalo estaria no acesso e distribuição de alimentos e não exatamente na sua produção, sobretudo, frente a impossibilidade econômica de indivíduos que, mesmo diante da oferta de um alimento, não têm condições mínimas de adquiri-lo a não ser recorrendo à doações, ajuda do Estado, mendicância ou furtos. A invisibilização de áreas urbanas precarizadas ou de difícil acesso, além de outros territórios marginalizados (indígenas e quilombolas, entre outros) demonstram ser as principais lacunas presentes nos mapas atuais, na medida em que eles se naturalizaram e são incapazes de visualizar novos horizontes, ou se desvencilhar dos modelos de representação euclidianas tradicionais, assentadas unicamente nas categorias de análise territoriais (região, estados e municípios), fortemente limitados pela dinâmica dos dados agregados. Além de escassos, os mapas atuais aparentemente perpetuam sempre os mesmos temas, desconsideram outros de grande relevância, e expressam de forma muito precária as métricas populacionais e o ambiente urbano, bem como suas contradições e desigualdades, sem contar que aparentemente relutam em dialogar com as demais categorias de análise da própria Geografia. Contudo, para além das terríveis consequências que a própria realidade se encarrega de nos mostrar, é evidente a necessidade de se aprofundar o tema, denunciar suas mazelas e propor soluções. Os mapas sobre a fome precisam evoluir para que possam servir de referência para a produção de estudos qualitativos interdisciplinares capazes de diagnosticar e medir a desigualdade e a segregação urbana bem como balizar os debates públicos sobre o tema e a construção de alternativas de superação. Sob esse aspecto, constatou-se que as análises espaciais dos territórios alimentares são plenamente capazes de suportar novas e criativas abordagens além dos mapas coropletos e representações quantitativas e, quando não se ignoram os territórios excluídos, os resultados da pesquisa demonstram haver maior aderência e sintonia com a realidade expressa na paisagem e nos textos científicos ou literários analisados