Da reconfiguração do homem: um estudo da ação político-pedagógica na formação do homem em Jean-Jacques Rousseau

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Paiva, Wilson Alves de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-30072010-141045/
Resumo: Embora a obra de Rousseau tenha sido objeto de uma farta produção intelectual ao longo dos quase dois séculos e meio de sua existência, continuamente sofre de interpretações distorcidas e leituras parciais. Com o objetivo de contribuir com essa discussão, sobretudo no que diz respeito à formação do homem, este trabalho procura discutir o processo pelo qual o homem natural se torna o homem civil, defendendo o ponto de vista que se trata de um empreendimento da razão, devidamente guiado pelos princípios da Natureza e voltado para uma autêntica formação humana na qual o homem se realize plenamente apenas em sua dupla condição, ou melhor, em sua condição composta de homem natural e homem civil. Tomando a metáfora da estátua de Glauco, a tese procura refletir que semelhantemente o homem teve sua aparência desfigurada ao longo do processo histórico. A cultura acabou negando a natureza e produzindo uma realidade ilusória que depravou o homem em sua constituição original. Mesmo que a nova condição gerada tenha sido notável para o progresso das ciências e das artes, degradou moralmente o homem, inviabilizando qualquer projeto social. Na reflexão que esta tese procura desenvolver, o termo reconfiguração é utilizado para designar a ação político-pedagógica possível dentro desse quadro, isto é, o que se pode fazer em termos da formação do homem, tendo em vista a realidade sócio-histórica e a corrupção geral do gênero humano, conforme Rousseau a concebe. Isso implica dizer que, no pensamento de Rousseau, a situação não está perdida, uma vez que a desfiguração não foi completa. Como restam algumas nuances que permitem reconhecer um pouco de sua figura original, torna-se possível, portanto, um processo de restauração que consiga de alguma forma produzir uma figura nova, valendo-se das características originais e agregando outras necessárias para o êxito do empreendimento. Para tal discussão, este trabalho se valeu da exegese dos textos rousseaunianos, sobretudo do Emílio. Para leitura complementar, a pesquisa contou com a coleção Oeuvres completes, da Pléiade, além das obras mais conhecidas e traduzidas para o português, como o Contrato social; A nova Heloísa; Emílio e Sofia; os Discursos etc. além dos textos de críticos consagrados, tais como Derathé, Starobinski, entre outros. Toda reflexão que aparece na obra de Rousseau prefigura a tarefa de fazer do homem um ser autônomo e livre, devidamente preparado para opor-se ao estado de depravação ao qual a humanidade chegou, resistindo o máximo possível à influência das paixões, dos vícios e às falsas soluções que podem aparecer. Assim, tomando a sociedade e o homem como devem ser, Rousseau contribui com a discussão, refletindo principalmente no Emílio sobre a possibilidade de reconciliação entre natureza e cultura, propondo uma formação que englobe os dois ideais e consiga superar os conflitos gerados pela sociedade. O que se pode chamar de verdadeira arte de reconfiguração do homem. Nessa perspectiva, o Emílio aparece como uma tentativa audaciosa e apaixonada de restaurar o homem natural para viver virtuosamente a realidade social. Em todos os sentidos, o Emílio está sendo preparado para as obrigações sociais e o cumprimento do dever. Porém, não significa que essa preparação o conduza necessariamente ao pacto social, mas a uma condição futura de autonomia, liberdade, sabedoria e conhecimento suficientes para viver plenamente sua vida pessoal, como homem, ou uma vida pública, como um dedicado cidadão de alguma comunidade qualquer.