O discurso de ódio nos \"cacerolazos\" (Argentina) e \"panelaços\" (Brasil): padrões comuns e diferenças

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Blanco, Ramiro Carlos Humberto Caggiano
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-03012022-155616/
Resumo: O ódio faz parte dos afetos da humanidade, como assinalava Aristóteles. Entretanto, observa-se que seu emprego, como dispositivo performativo, ultimamente vem adquirindo relevância em vários países com finalidade política. A construção discursiva do ódio, no campo da disputa hegemônica (LACLAU, 2005), realiza-se mediante a constituição de um \"outro anômalo\" em oposição ao \"nós normalizador\". Assim, entendemos o discurso de ódio como um grau superior à polarização ideológica (VAN DIJK, 2012) e à polarização dicotômica no discurso polêmico (AMOSSY, 2008). Em consequência disso, o trabalho objetiva mostrar como as expressões de ódio contidas nos enunciados proferidos nas manifestações contra os governos de Cristina Kirchner, na Argentina, e de Dilma Rousseff, no Brasil, conhecidas como \"Cacerolazos\" (2012-2014) e \"Panelaços\" (2015-2016), representam e extremam o processo da construção desse sentimento. Busca-se mostrar como enunciados articulados em torno de significantes vazios, idênticos ou símiles, por meio das mesmas estratégias de descortesia comunicativa, foram empregados como expressão reativa a esses projetos políticos nos dois países, apesar das diferenças nas suas respectivas formações sócio-históricas. Para verificar esse fenômeno retórico-discursivo, embasamos a pesquisa em um corpus constituído por enunciados obtidos a partir de vídeos, cartazes e depoimentos espontâneos dos participantes de ambas as manifestações, perpassados pelo discurso de ódio, que são analisados mediante relações de comparação e apontamento das regularidades e diferenças temáticas, discursivas e semióticas empregadas para expressar descortesia, construção da identidade e \"outredade\". Com o auxílio do método comparativo e histórico foi possível traçar os elementos contextuais de produção dos enunciados pautados pelos aspectos sócio-políticos e discursivos das manifestações e, depois, com o método descritivo-analítico, realizar as análises propriamente ditas. Quanto ao aporte teórico partimos dos conceitos de polarização ideológica \"nós\" x \"eles\" descrita por Van Dijk (2005), e do discurso polêmico (AMOSSY, 2008); dos estudos da teoria dos atos de fala, principalmente no que tange a performatividade (AUSTIN, 1982; RAJAGOPALAN, 2008); para detalhar os mecanismos e os efeitos multiplicadores do discurso do ódio, dos aportes de Ahmed (2015), Kiffer (2019), Gorgi (2019) e Merlin (2019); e, sobre a descortesia, das contribuições de Culpeper (2011) e Marlangeon (2005), de quem tomamos as categorias de descortesia por fustigação e de afiliação exacerbada para classificação e análise do corpus. A pesquisa constitui uma contribuição para compreender a articulação discursiva e os significantes vazios em volta dos quais se articularam os enunciados descorteses, assim como as estratégias de descortesia comunicativa recorrentes na criação discursiva do ódio, cujo entendimento é condição essencial para procurar desativar os sedimentos desse discurso de ódio ainda presentes nas sociedades argentina e brasileira. Nos resultados buscou-se a compreensão dos fenômenos tratados à luz da teoria, dos dados coletados nessas comunidades de fala, e da tarefa analítica de sua interpretação.