O cotidiano de trabalho no NASF: percepções de sofrimento e prazer na perspectiva da psicodinâmica do trabalho

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Nascimento, Debora Dupas Gonçalves do
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/83/83131/tde-19062015-141247/
Resumo: Trata-se de um estudo de caso exploratório, de natureza descritiva e abordagem quanti-qualitativa, que teve por objetivo geral analisar o processo de trabalho dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e as possíveis repercussões em sua qualidade de vida no trabalho. O referencial teórico-metodológico foi a hermenêutica dialética, ancorada no marco teórico da Saúde Coletiva. Na fase quantitativa, participaram 76 trabalhadores do NASF da Atenção Primária à Saúde Santa Marcelina do município de São Paulo, que responderam ao Questionário de Avaliação de Qualidade de Vida Profissional (QVP-35) e ao Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL). Na fase qualitativa, 20 desses trabalhadores foram reunidos em três grupos focais e o material empírico resultante foi submetido à técnica de análise de conteúdo e analisado à luz da Psicodinâmica do Trabalho de Dejours. Os resultados evidenciaram que, de acordo com o QVP-35, a maioria dos trabalhadores considerava-se capacitada para realizar o trabalho, porém a metade apresentava estresse na fase de resistência, de acordo com o ISSL. Os discursos, organizados de acordo com as categorias analíticas sofrimento, prazer e estratégias defensivas, permitiram constatar que a proposta contra-hegemônica do NASF não corresponde às expectativas e às necessidades percebidas pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), o que torna o processo paradoxal e gerador de desgaste e sofrimento para os trabalhadores. O sofrimento relaciona-se ao trabalho real vs. o trabalho prescrito; à resistência a proposta do NASF e à incompreensão de seu papel; à cultura imediatista e curativa do usuário, da ESF e da gestão; ao perfil dos trabalhadores, à sobrecarga e à identificação com o trabalho; às relações interpessoais e o trabalho em equipe; à sensação de não pertencimento, à falta de infraestrutura e à violência e à vulnerabilidade do território. O prazer decorre da identificação com a proposta do NASF e o reconhecimento pelo trabalho; da interdisciplinaridade, do trabalho em equipe e da educação permanente em saúde. As estratégias defensivas foram mais individuais que coletivas: os trabalhadores buscam fortalecer-se enquanto grupo, mas também procuram restringir-se ao que é específico de sua categoria profissional; fazer o melhor, reconhecendo os próprios limites; desenvolver habilidades interpessoais e de comunicação. Conclui-se que a recente proposição do NASF no âmbito das políticas públicas voltadas para o fortalecimento da Atenção Básica apresenta um grande potencial de mobilização e qualificação das ações e intervenções no contexto da ESF, no entanto, é possível identificar uma contradição dialética entre suas premissas de base teórica-ideológica e ético-política e a efetivação da proposta na realidade concreta do trabalho em saúde.