O trauma decorrente da escravização da população negra africana e negradescendente no Brasil: da desumanização à continuidade na (in)diferença

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Gonçalves, Renata Souza
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-12072024-131355/
Resumo: Esta pesquisa analisa, a partir de imagens, a incidência coletiva da neurose traumática decorrente da escravização da população negra africana e negradescendente no Brasil e do seu legado aterrorizante. Para tanto, foi realizada uma análise da neurose traumática em Freud, onde se observou o impacto da compreensão de um fenômeno social sobre a metapsicologia, e uma busca por imagens que pudessem contribuir com uma leitura dessa experiência a partir da realidade brasileira. Inicialmente, esse processo ocasionou o contato com um conjunto de obras nas quais predominam o olhar do outro sobre o outro, demonstrado através da desumanização da população negra e da espetacularização das violências coloniais que a acometem. Em recusa a essa perspectiva, foi realizada uma nova pesquisa, que teve como critério a inserção de imagens de autoria negra e, ao final, favoreceu a seleção de séries de fotografias do artista brasileiro Eustáquio Neves. O discurso crítico, o compromisso de resgatar a história da população negra no Brasil e a relevância social contribuem para que essas obras sejam interpretadas como (foto)escre(vivências), isto é, um tipo de enquadramento de autoria de profissionais negros que partilha de princípios comuns à escrevivência proposta por Conceição Evaristo. Seguindo a metodologia gonzaleana, a análise das séries Boa aparência (2000), Cartas ao mar (2015) e Outros navios (2022) possibilitou a associação com as três dimensões do trauma psíquico: o choque violento, a separação e a atemporalidade, respectivamente. Como resultado, constatou-se a reatualização da experiência traumática em meio às circunstâncias de vida de homens negros; a separação como um tipo de morte; e a (foto)escre(vivência) como um meio de elaboração psíquica, vista notadamente na passagem do apagamento de pessoas negras para a produção de ausências nas imagens. Diante disso, além de denunciar a continuidade de violências análogas às do período escravagista e as suas repercussões psíquicas, a investigação realizada pode fomentar discussões na psicologia e na psicanálise, o que é fundamental, diante do atraso histórico desses campos no que diz respeito ao estudo das relações étnico-raciais no Brasil.