Representações sociais da água e práticas de uso e manejo dos recursos hídricos no contexto da sub-bacia hidrográfica do rio Culuene/MT

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Cavalcanti, Cintia Münch
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-28112018-182909/
Resumo: Desde sua ocupação por não indígenas, a região do Alto Xingu tem sido alvo de rápidas e profundas transformações sociais, ambientais e econômicas, acentuadas nas últimas duas décadas pelo aumento populacional e pela expansão e intensificação de atividades agropecuárias. Os impactos sobre os recursos hídricos locais vêm sendo observados, especialmente por seus primeiros ocupantes, os povos indígenas que habitam a região. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo analisar a relação entre as representações sociais da água e as práticas de uso e manejo dos recursos hídricos dos diferentes grupos sociais que ocupam o meio rural da sub-bacia hidrográfica do rio Culuene, Mato Grosso. Os resultados mostram que os valores, experiências e categorias mentais associados à água estão diretamente relacionados às práticas de uso e manejo dos recursos hídricos nos diferentes grupos. Assim, constatou-se que, quanto mais categorias e subcategorias o grupo utiliza para perceber e instrumentalizar a água, menor é a adoção de práticas que contribuem para a degradação dos recursos hídricos pelo mesmo, e vice versa. Os povos indígenas e pescadores e barqueiros foram os grupos que apresentaram maior número de categorias e subcategorias de representação da água e uma visão mais holística do recurso no território, por conseguinte, suas práticas de uso e manejo da água apresentaram baixo ou insignificante impacto para a manutenção qualitativa ou quantitativa da água. Os minifundiários e médios produtores utilizaram menos subcategorias que os grupos anteriores para descrever o status da água e apresentaram práticas de manejo e uso da água similares, que contribuem para a sua degradação, como: represamentos de nascentes para a dessedentação animal, ausência de vegetação nativa no entorno de minas d\'água, dessedentação animal nas beiras de rios e córregos e uso intensivo de agrotóxicos. Por último, o grupo dos grandes produtores foi o que exibiu menos categorias e subcategorias de representação da água e, por outro lado, demonstrou adotar práticas mais impactantes para a degradação dos recursos hídricos, mais especificamente: represamentos de nascentes em grande escala para piscicultura, dessedentação animal direta e armazenamento de água - sem a devida obtenção de licença ambiental -; drenagens de várzeas; falta de vegetação nos entornos de nascentes; perfuração de poços irregular e uso intensivo de agrotóxicos. Desta forma, verificou-se a existência de práticas de uso e manejo da água extremamente diversificadas e contrastantes no território, no qual o acesso a água em qualidade e quantidade mostrou-se dependente do poder econômico dos grupos que tem acesso à terra. Além disso, a escolha de práticas de manejo e uso da água pelos grupos com maior poder econômico, como também, pelos grupos socialmente excluídos, tem gerado uma série de impactos locais, como poluição e contaminação da água por agrotóxicos, redução e morte de peixes, morte de árvores em beiras de rios e de plantas tradicionalmente cultivadas para a subsistência de povos indígenas e pequenos produtores.