Transtornos de aprendizagem: quando \"ir mal na escola\" torna-se um problema médico e/ou psicológico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Bautheney, Katia Cristina Silva Forli
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-13122011-124145/
Resumo: A expressão transtornos de aprendizagem pode ser encontrada tanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2000) quanto na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10, 1993) obras de referência, no Brasil, na taxonomia dos ditos transtornos ou distúrbios psicológicos. Esses textos apresentam em seu conteúdo a descrição de uma sintomatologia e diagnóstico diferencial de perturbações que se manifestariam pela primeira vez na infância ou adolescência. Dentre esses problemas estão os que envolvem os processos de aprendizagem e/ou escolarização. Parte da nomenclatura nosográfica utilizada nessas obras aparece incorporada ao discurso de alguns educadores para designar entraves vivenciados pelos alunos na escola, silenciando em categorias o que é considerado inadequado no comportamento desses sujeitos. Neste trabalho de doutorado, procuramos analisar, sob uma ótica foucaultiana, diferentes formas de articulação entre saber e poder como fundamentação para o surgimento de conceitos e orientação de uma práxis. Buscaremos traçar, especialmente, uma genealogia do emprego do discurso psiquiátrico no campo da educação, partindo do pressuposto de que existe uma correspondência imaginária entre loucura e fracasso escolar, o que será demonstrado por meio do estudo dos desdobramentos desta relação em algumas práticas pedagógicas, sobretudo a escrita de relatórios sobre alunos que vão mal na escola. Na primeira parte da tese, estudaremos como as afecções hoje entendidas como transtornos de aprendizagem descendem de categorias que ao longo do século XIX (o qual assistiu o surgimento da psiquiatria moderna e da psicologia experimental) eram consideradas um tipo de loucura na forma de idiotia e imbecilidade. Visamos destacar como o uso de procedimentos pedagógicos tomados como terapia ou profilaxia dos transtornos mentais permitiu a importação do discurso psiquiátrico para as instituições escolares. Na segunda parte, à luz do conceito de poder psiquiátrico formulado por Foucault, analisaremos o solo epistemológico e as forças que permitem a circulação de um discurso médico e psicológico acerca dos fenômenos escolares. A última parte da tese versará sobre formas como se tecem as tramas entre loucura, doença mental, transtorno psicológico, inadequação de comportamento, discurso psiquiátrico e insucesso escolar. Para exemplificar esse movimento partiremos da análise documental e de relatórios de educadores e profissionais de saúde sobre alunos com supostos problemas de aprendizagem produzidos estes no âmbito de um serviço de Saúde Escolar, localizado num município da Região Metropolitana de São Paulo e coletados em Pesquisa de Campo realizada entre 2007 e 2010. Esse material será analisado dentro de uma abordagem qualitativa, na perspectiva de Albuquerque (1986) e Maingueneau (1997, 2008a, 2008b) de análise do discurso institucional. Ao término deste trabalho demonstraremos como a circulação do discurso psiquiátrico no campo da educação gera o esvaziamento do ato educativo, e é por ele alimentado.