Síndrome de Sjögren primária: impacto do tratamento odontológico de atenção primária e estudo dos anticorpos anti-DNase I

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Martins, Victor Adriano de Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5140/tde-10102022-112540/
Resumo: Introdução: A síndrome de Sjögren primária (SSp) é uma doença sistêmica inflamatória crônica que acomete principalmente as glândulas lacrimais e salivares. A SSp tem fisiopatologia autoimune e cursa com a produção de autoanticorpos, particularmente anti-Ro/SS-A e anti-La/SS-B. Recentemente, nosso grupo descreveu uma alta frequência de anti-DNase I no soro dos pacientes com SSp. Esse achado se torna interessante considerando a recente descrição de redução da atividade da DNase I na lágrima de pacientes com xeroftalmia de diversas causas, o que teria como consequência um acúmulo de DNA extracelular, o que poderia contribuir para o processo inflamatório na superfície ocular. É possível que tais achados também ocorram na cavidade oral. Além disso, os focos infecciosos orais podem agravar a disfunção das glândulas salivares em modelo experimental. Entretanto, existem poucos estudos avaliando o impacto do tratamento odontológico de atenção primária (TOP) na SSp. Objetivos: Avaliar a presença dos anticorpos anti-DNase I e atividade dessa enzima na saliva e no soro dos pacientes com SSp e o impacto do TOP sobre o grau da xerostomia, taxas de fluxo salivar e perfil de citocinas salivares. Métodos: Foram incluídos em um estudo prospectivo 52 pacientes com SSp [critérios de classificação do American-European Consensus Group (2002) e/ou do ACR (American College of Rheumatology) / EULAR (European League Against Rheumatism) (2016)] e 52 indivíduos controle sem doenças autoimunes sistêmicas, pareados para sexo, idade e raça e comparáveis aos pacientes quanto à classe socioeconômica. À entrada no estudo (D0), todos os participantes foram avaliados através de um protocolo clínico padronizado, que incluiu o Inventário de Xerostomia (IX). Os pacientes com SSp também foram avaliados através do EULAR Sjögrens Syndrome Reported Index (ESSPRI) e do EULAR Sjögrens Syndrome Disease Activity Index (ESSDAI). Foi calculado o Índice de Cariados, Perdidos e Obturados para Dentição Permanente (Índice CPO-D), feita a avaliação de periodontite (American Academy of Periodontology, 2000) e demais focos inflamatórios orais para todos os participantes; além de mensuradas as taxas dos fluxos salivares não-estimulado e estimulado. À inclusão no estudo, também foram coletadas amostras de soro, plasma e saliva dos pacientes com SSp e controles para detecção do anti-DNase I IgG, determinação das concentrações séricas e salivares de DNase I e sua atividade. Foram ainda medidos os níveis salivares do fator de necrose tumoral- (TNF-), interleucina (IL)-1, IL-6, resistina, B-cell activating factor (BAFF) e metaloproteinase-9 (MMP-9). Após essas coletas, foi então realizado o TOP no D0 e repetidas as avaliações clínicas e laboratoriais após três meses do TOP (D90). Resultados: Todos os 52 pacientes com SSp e 49 controles completaram as avaliações clínicas e odontológicas no D0 e no D90. Os grupos de pacientes e controles foram similares quanto às características demográficas: idade (P = 0,800), sexo (P = 1,000), raça (P = 1,000) e nível socioeconômico (P = 0,821). Em contraste, o índice CPO-D foi maior nos pacientes com SSp do que nos controles: 13,3 8,2 vs. 8,6 6,2 (P = 0,002), respectivamente. As lesões cervicais não-cariosas foram também mais frequentes nos pacientes com SSp comparativamente aos controles (P = 0,008). Em contraste, os parâmetros periodontais e a frequência de periodontite foram comparáveis nos dois grupos (P > 0,05). A pesquisa do anti-DNase I sérico mostrou que essa reatividade é mais frequente nos pacientes com SSp (63,5%) do que nos indivíduos controle (11,5%) (P < 0,001). Além disso, demonstramos a presença do anti-DNase I e a diminuição da atividade dessa enzima na saliva dos pacientes com SSp. A avaliação dos pacientes com SSp no D0 e três meses após o TOP (D90) mostrou melhora significativa da taxa de fluxo salivar não-estimulado (P < 0,001) e estimulado (P = 0,001). Não houve melhora nos valores do IX (P = 0,285), mas 26,9% dos pacientes com SSp apresentaram melhora clinicamente significativa (redução de pelo menos seis pontos no IX). Os valores do ESSPRI e do ESSDAI permaneceram inalterados no D0 e D90 (P > 0,05), bem como as concentrações salivares de TNF-, IL-1, IL-6, resistina, BAFF e MMP-9 (P 0,05). Conclusões: O Índice CPO-D foi maior nos pacientes com SSp do que nos controles sem doenças autoimunes sistêmicas, confirmando a relevância das lesões cariosas nessa doença. Demonstramos a presença do anticorpo anti-DNase I no soro e na saliva dos pacientes com SSp, bem como a diminuição da atividade dessa enzima na saliva, o que, em hipótese, pode contribuir para a fisiopatologia do dano das glândulas salivares. O TOP promoveu melhora significativa das taxas de fluxo salivar não-estimulado e estimulado dos pacientes com SSp. Esse achado, embora sem melhora do IX, tem o potencial de contribuir para a redução das complicações orais da SSp e reforça a sua recomendação para esses pacientes