Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
1976 |
Autor(a) principal: |
Carneiro, Paulo Roberto |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240301-151216/
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Resumo: |
Atualmente, o conhecimento objetivo da fecundidade da população brasileira, e dos fatores econômicos e sociais associados a ela, torna-se indispensáveis, tanto para realizar as projeções demográficas necessárias a um planejamento sócio-econômico, como para a elaboração de uma política populacional consciente e racional. Entretanto, devido a uma série de fatores, destacando-se entre estes, a complexidade do fenômeno - fecundidade - e a deficiência de dados demográficos fidedignos, são ainda, escassas, no Brasil, as pesquisas sobre o comportamento reprodutivo dos vários segmentos populacionais, principalmente, dos situados em áreas rurais, e que representam uma considerável parcela da população nacional. O presente trabalho objetivou analisar a fecundidade de uma representativa camada da sociedade rural, constituída pelos grupos de baixa renda na agricultura brasileira. A amostra escolhida constou de 168 mulheres de agricultores residentes em um dos quatro municípios (Jacupiranga, Miracatu, Pariquera-Açú e Pedro de Toledo), da região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, selecionados pelo Projeto sobre Alternativas de Desenvolvimento para grupos de Baixa Renda na Agricultura Brasileira, coordenado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo e do qual participam várias outras instituições de pesquisas. Com base nos dados fornecidos pelo primeiro levantamento de campo daquele projeto, analisaram-se as relações existentes entre a fecundidade - medida através do número de filhos nascidos vivos e de gestações por mulher - e variáveis sócio-econômicas e demográficas: idade da mãe na época da entrevista e na ocasião do casamento; categoria ocupacional do marido; religião da mulher instrução dos cônjuges; tipo de união matrimonial; renda per capita anual da família, e local do nascimento do homem e da mulher. Da análise dos resultados concluiu-se que: 1º) A população em estudo caracteriza-se por possuir uma alta fecundidade, superior à encontrada em pesquisas similares desenvol vidas com populações de outras áreas brasileiras. Este fato pode ser explicado por se tratar de população rural agrícola, com baixos níveis de renda e escolaridade, dificultando, desta maneira, a incorporação de valores urbanos que, conforme comprovado por diversos estudos, são os principais responsáveis pelo decréscimo das taxas de fecundidade. Para populações de áreas urbanas, foi confirmado que, basta os casais terem superados os níveis mais baixos dos indicadores sócio-econômicos para que se efetive a transição demográfica e a adoção de modernos padrões de família (CAMARGO et al. 1970:6). 2º) A associação entre a fecundidade e o nível de instrução dos cônjuges revelou uma relação inversa entre essas variáveis, ou seja, para os níveis mais altos de instrução formal, tanto para o homem, como para a mulher, o número de filhos nascidos vivos é menor. As menores médias foram encontradas tanto para as mulheres como para os homens que possuíam, na data da entrevista, curso primário completo. Uma conclusão a que se pode chegar é a de que uma maior escolaridade torna possível alguma espécie de planejamento familiar, quer seja pelas maiores possibilidades de acesso e conhecimento de técnicas anticoncepcionais, quer seja, por uma alteração nas aspirações dos casais em relação ao número de filhos desejados. Verificou-se, também, que para os homens, a instrução está associada a um maior decréscimo da fecundidade do que para as mulheres. 3º) Com relação à renda, não se pode dizer que se chegou a uma conclusão definitiva quanto à associação entre esta variável e a fecundidade. A relação inversa entre o número de gestações e de filhos nascidos vivos por mulher, e a renda per capita anual da família não se manifestou de uma forma perfeita para a população como um todo. Entre os fatores que concorreram para isto, devem ser destacados: a grande homogeneidade de renda entre os agricultores da amostra e o fato da mesma ter sido medida levando-se em consideração apenas um determinado período do tempo - ano de 1972 - e, desse modo, não abarcando um lapso de tempo mais amplo que fosse significativo para o problema estudado. A relação inversa entre a renda per capita anual da família e a fecundidade, tornou-se, no entanto mais visível, quando se considerou as mulheres pertencentes aos grupos etários mais jovens - 15 a 34 anos de idade, ocorrendo, neste caso, uma queda na fecundidade com a elevação da renda per capita anual da família. 4º) Para a população estudada, a idade da mulher na ocasião da entrevista, estava altamente associada à sua fecundidade, desta maneira, o número de gestações e de filhos nascidos vivos por mulher, aumenta à medida que se passa de um grupo etário mais jovem para um mais idoso. A associação entre estas variáveis foi, no entanto, mediatizada pelo tempo de casamento, uma vez que a duração do matrimônio constitui medida da exposição ao risco de conceber. As mulheres componentes da amostra caracterizaram-se por se casarem em idade jovem - a idade média ao se casar, para as 168 mulheres, foi de 19,7 anos - ocorrendo uma associação entre a idade ao casar e o número de gestações e de filhos nascidos vivos, revelando, desta maneira, que a idade ao casar tornou-se condição para que se associasse positivamente a idade da mulher e a fecundidade. As mulheres em idade fértil (15 - 49 anos) estavam casando-se, com idade mais jovem do que as mulheres que já tinham terminado o seu período reprodutivo (50 e mais anos de idade), isto é, a proporção de mulheres cuja idade, na época da entrevista, estava compreendida entre 15 e 49 anos, que se casaram até os 19 anos de idade, era bem superior à das mulheres que se casaram nesse grupo etário, e que naquela época, possuiam 50 anos de idade ou mais; isto significa que se as mulheres que, atualmente, encontram-se em período fértil, mantiverem as mesmas taxas específicas de fecundidade por idade, que as das mulheres que já terminaram o período fértil, haverá uma tendência para aumentar a fecundidade na população analisada. 5º) Não foram encontradas diferenças significativas na fecundidade das mulheres da população estudada, de acordo com a categoria ocupacional dos maridos. As mulheres dos proprietários, arrendatários, parceiros, assalariados fixos e assalariados eventuais, apresentaram alta fecundidade. 6º) As mulheres protestantes foram as que apresentaram as maiores médias de gestações e de filhos nascidos vivos, em relação às católicas e às que professavam outras religiões. Entretanto, estatisticamente, foi comprovado não haver diferenças significativas em relação aos índices de fecundidade, entre as mulheres dos referidos grupos religiosos. 7º) Do mesmo modo, não foi comprovada a associação entre a fecundidade e o local de nascimento do homem e da mulher. Note-se, no entanto que a população estudada, embora proveniente de diversas regiões do país, era sempre de origem rural. 8º) As mulheres cujo tipo de união foi classificado como cívil e religioso, possuiam fecundidade superior às que mantinham união consensual. A união com vínculo institucional parece dar ao casal uma maior estabilidade, refletindo, deste modo, na sua superior fecundidade. |