Uma visão histórico-crítica do conceito de crise não-epiléptica psicogênica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Kurcgant, Daniela
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-21062010-173758/
Resumo: As crises não-epilépticas são definidas como crises, ataques ou acessos recorrentes que podem ser confundidos com epilepsia, devido à semelhança das manifestações comportamentais existentes entre ambas, mas difere da crise epiléptica por não ser conseqüente de descargas elétricas cerebrais anormais. Podem ter origem fisiogênica ou psicogênica. Os diagnósticos psiquiátricos que mais freqüentemente apresentam-se sob a forma de crises não-epilépticas psicogênicas são o transtorno conversivo e o transtorno de somatização. Na prática clínica, a diferenciação entre crises epilépticas e crises não-epilépticas desafia e confunde os clínicos, os neurologistas e os psiquiatras desde tempos remotos. A introdução da monitorização pelo vídeo-eletroencefalograma vídeo-EEG, considerado o padrão ouro para o diagnóstico diferencial, levou a um aumento significativo no número de diagnósticos de crises não-epilépticas psicogênicas. Apesar de se tratar de uma situação clínica de difícil manejo, com conseqüências médicas e sociais significativas, fica evidente que o conhecimento técnico e instrumental sobre as crises não-epilépticas psicogênicas são insuficientes para abordar este problema. O objetivo geral deste estudo é de o de enriquecer a compreensão das crises não-epilépticas psicogênicas, nos últimos quarenta anos. As condições de emergência histórica e as implicações práticas do conceito de crise não-epiléptica psicogênica foram investigadas. Para tanto, foram selecionados artigos que abordam o conceito de crises não-epilépticas psicogênicas em três periódicos de neurologia e em três de psiquiatria. Esta pesquisa partiu de projetos epistemológicos que possibilitam um pensamento reflexivo sobre a produção de conhecimentos científicos, no que diz respeito à formação, às mudanças e à formalização dos conceitos, teorias e práticas. Houve uma aproximação da metodologia histórico-epistemológica de Canguilhem e Bachelard, passando pela análise crítica de Foucault e alcançando o pensamento hermenêutico de Habermas e Gadamer. Foi verificado que os conceitos de histeria e epilepsia vêm sendo reformulados, ao longo do tempo. As crises não-epilépticas psicogênicas foram demarcadas em períodos. Na década de 1970, predominam os artigos que discutem a redução da prevalência da histeria e da personalidade histérica nas mulheres. Na década de 1980, existe uma preocupação com a formulação de diagnósticos através de instrumentos e entrevistas padronizadas e um aumento explosivo do número de artigos, dos periódicos de neurologia, que discutem o uso do vídeo-EEG. Na década de 1990, surgem os artigos que abordam os múltiplos diagnósticos psiquiátricos e as pesquisas sobre o abuso e a dissociação associados à crise não-epiléptica psicogênica. Conclui-se que as crises não-epilépticas psicogênicas, tal qual o conhecimento científico, tem uma história, que interage com outros tipos de conhecimento e que são influenciadas por variáveis sociais. Nesta direção, sugere-se que a possibilidade de abertura e diálogo entre as dimensões técno-científica e prática possam criar condições para um modelo de cuidado mais adequado e integrado junto aos pacientes com crises não-epilépticas psicogênicas