Uma gramática disparatada da revolução: negação, mulher e ontologia no texto L\'étourdit de Lacan

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Ribeiro, Leilane Andreoni
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-17062020-165216/
Resumo: Trata-se de discutir as problematizações entre negação, mulher e ontologia na psicanálise lacaniana, sobretudo, na esteira do texto LÉtourdit (1972) de Lacan. Sob o prisma da gramáticadialética de duas frases que marcam o começo do escrito, verifica-se que a racionalidade aristotélica patológica corresponde, em sede de tese, ao ponto de partida da psicanálise lacaniana, no qual o discurso analítico, em sede de antítese, visa incidir como cura. Tal sintaxe rege o fio condutor do caminho dialético de Létourdit em direção à superação da tradição metafísica. Considerando que essa sintaxe é formalizada nos matemas da sexuação, a mulher lacaniana expressa dois regimes de existência negativos distintos. Enquanto na racionalidade metafísica inicial ela é a privação do falo natural, excluída do gênero metafísico-falocêntrico, em um segundo tempo, devido à reconfiguração gramatical operada dialeticamente pelo discurso analítico, ela passa à contradição efetiva do sistema e, como tal, a sujeito ontológico revolucionário: capaz de fundar a si mesma em seu ato de emancipação. A principal tese defendida pela dissertação, nesse sentido, é a de que há uma convergência incontornável para Lacan entre o paradigma existencial identitário metafísico, o falocentrismo e a posição sintática sócio-histórica da mulher inferiorizada. A mulher lacaniana não é, assim, a identidade oposta/binária ao homem: ela é a possibilidade da mutação da negatividade que desloca o princípio de exclusão sóciohistórico em revolução. Teoricamente, tal transição é operada a partir de uma aproximação de Lacan com a filosofia também crítica à metafísica e de uma ruptura parcial a Freud. Por um lado, analisa-se, assim, a influência de Kant, Hegel e Heidegger na armação gramatical do escrito e suas implicações no horizonte de formação de uma síntese ontológica para a psicanálise lacaniana capaz de interferir na estrutura simbólica falocêntrica. É, sobretudo, na mediação entre Hegel e Heidegger, pela progressão-regressão temporal do discurso analítico, que a mulher é investida da função sintática de negação determinada e diferença ontológica em relação ao fundamento metafísico fálico e alcança um novo arranjo entre positividade e negatividade inicial. Por outro lado, no confronto da posição revolucionária da mulher lacaniana com os postulados da teoria freudiana, revela-se que Lacan realiza em Létourdit o parricídio parcial a Freud, como medida da também superação das matrizes metafísicas respaldas pelo pai da psicanálise, tanto no que toca ao regime de existência representativo, quanto à primazia conferida à anatomia fálica. Isso é fundamentado teoricamente pela abertura das fronteiras da neurose fálica à foraclusão psicótica e seu empuxo à mulher. A loucura e a mulher como ápices da progressão do processo de cura analítica implicam uma nova forma de lucidez, não-excludente e disruptiva da normatividade aristotélica. Em proposta radical de refundação da psicanálise e atravessamento da mítica patriarcal freudiana, Antígona emerge soberana em dilaceramento ao Édipo: eis a nova mítica lacaniana propulsora de uma gramática disparatada da revolução. Como consequência dessa processualidade dialética, uma nova síntese entre negatividade e positividade, articulada por um novo ato existencial, tem o condão de deslocar as formas atributivas conservadoras de reconhecimento para o fazer verbal, assim como propiciar ao sujeito sintático homem transformado em mulher o lugar de agência criativa, a se mover no sentido da construção de outra cultura: não fálica. Por fim, para além da clínica, argumenta-se, à luz da banda de Moebius, a favor da unilateralidade dialética do sentido-direção do ato, endereçado à efetivação da negação ao sistema proprietário e identitário vigente em prol de uma nova frase histórica