A formação humana em contexto de violência: uma compreensão clínica a partir da Fenomenologia de Edith Stein

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Carneiro, Suzana Filizola Brasiliense
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-16082016-115100/
Resumo: Este estudo, baseado na Fenomenologia de Edith Stein, teve por objetivo compreender as vivências fundamentais de pessoas que vivem em um contexto marcado pela violência, bem como investigar as repercussões dessas vivências em seu processo formativo. A pesquisa foi realizada no bairro do Uruguai, em Salvador (BA), região conhecida como Alagados. A apreensão das vivências ocorreu pelos registros de um diário de bordo e por 15 entrevistas abertas com os moradores. A análise foi realizada em dois momentos. No primeiro, selecionamos 4 entrevistas (2 homens e 2 mulheres) e realizamos uma análise individual dos participantes, tomando como referência as dimensões constitutivas da pessoa segundo Edith Stein (vivências psicofísicas, espirituais e interpessoais, aspectos éticos e religiosos). No segundo, selecionamos, das 15 entrevistas, vivências significativas para os participantes do ponto de vista formativo e as agrupamos em 8 vivências fundamentais: 1) vivência do improviso (da urgência da vida); 2) vivência da morte; 3) vivência da chaga; 4) vivência de violência; 5) vivência da solidariedade; 6) vivência da periferia; 7) vivência da maternidade e 8) vivência da religiosidade. A análise individual dos 4 participantes possibilitou identificar um movimento formativo comum, caracterizado por vivências psicofísicas de forte intensidade que culminaram com a experiência do limite pessoal a partir de uma situação de morte eminente. Esta última, por sua vez, motivou a vivência da escuta de si e do reconhecimento de um apelo interior de realização (núcleo pessoal), dando origem ao propósito de dar novo rumo à própria vida. Entretanto, a concretização desse propósito não se deu de modo automático, mas foi marcado por momentos de luta interior entre essa decisão (própria da dimensão espiritual) e o movimento psíquico reativo de busca de bem-estar e segurança, que apontava para a permanência da pessoa no status quo. O último momento reconhecido foi a decisão livre de seguir o apelo sentido, dando início a um processo de transformação da pessoa e do contexto em que ela se insere. Constatamos também, nesse processo, que não basta o reconhecimento do apelo do núcleo pessoal para que a pessoa assuma a direção da própria vida, mas que ela necessita de uma quantidade mínima de força vital para realizar-se nesta direção. Nesse sentido, identificamos 5 fontes de força espiritual para os participantes, que os auxiliam nesse processo, o que pode servir de orientação para intervenções futuras: 1) a história do bairro; 2) a arte (dança, música, filmes); 3) a vivência da solidariedade; 4) a própria história de vida da pessoa (testemunho) e 5) a religiosidade. Também levantamos como orientação para futuras intervenções a necessidade de um trabalho que auxilie os moradores na expressão de suas vivências e no desenvolvimento da dimensão espiritual (intelecto e vontade). Finalmente, pudemos constatar a beleza e a força da pessoa humana, as quais nenhum contexto de violência é capaz de anular