Entre atoleiros e becos sem saída: descrição fenomenológica dos impasses vivenciais experienciados por acompanhantes terapêuticos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Faizibaioff, Danilo Salles
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-07102016-171753/
Resumo: O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma modalidade clínica central no tratamento de pessoas portadoras das mais graves configurações psicopatológicas na contemporaneidade. Os profissionais que a praticam, os acompanhantes terapêuticos (ats), descrevem, em diversos artigos e capítulos de livro por eles publicados, as principais dificuldades, empecilhos, estorvos, embaraços, agonias, incertezas, obstáculos e desafios em seu cotidiano de trabalho. Tais fenômenos, que se lhes manifestam ao nível das vivências, isto é, da experiência sensível, denominei-os de Impasses Vivenciais (IpVs). O objetivo desta pesquisa foi buscar e sintetizar, na literatura científica do AT, descrições destas vivências perturbadoras e desorganizadoras, destes turbilhões vivenciais que convocam os acompanhantes à experimentação de pensamentos, sensações, sentimentos, emoções e reflexões ante os quais eles, independente de suas abordagens teóricas de trabalho, reconhecem as principais adversidades da clínica do AT. Trata-se, em síntese, de descrever as diferentes formas de aparição dos IpVs aos ats, tal como se lhes manifestam à consciência, da forma como se lhes apresentam espontaneamente. Em seguida visou-se, para além da descrição das diferentes formas de aparição dos IpVs, à intuição da essência de tal fenômeno. A pesquisa é de natureza qualitativa, conduzida pelo método fenomenológico, mais especificamente pela Fenomenologia de Eugène Minkowski, um psiquiatra e psicopatólogo russo-polonês que, já no começo do século XX, empreendeu uma experiência clínica radical em moldes formais e éticos bastantes similares ao atual AT. Ele descreveu, em relação a ela, suas vivências de impasse em um artigo publicado em 1923. Outros interlocutores elegidos para o diálogo com os achados aqui levantados foram Donald Winnicott e Gilberto Safra. Foram analisados diversos artigos publicados em periódicos indexados ou revistas de outra natureza e capítulos de livros sobre o AT, recortando-se descrições escritas destes impasses vivenciais, as quais foram sendo progressivamente comparadas umas às outras. À medida que se foi notando uma repetição quanto à natureza das diferentes formas como estes IpVs se lhes manifestavam aos acompanhantes, 6 categorias fenomenológicas foram construídas por saturação: (1) impactos físicos e sensoperceptivos; (2) sensação de impotência, desesperança e não-saber; (3) fragilidade do lugar profissional do at; (4) estranhamento/questionamento das próprias representações normal/patológico; (5) insegurança, desproteção e medo e (6) interpenetração fusional. Elas foram expostas em diálogo com as próprias vivências de impasse do autor desta dissertação, em sua experiência de 5 anos como at, e também com as de Eugène Minkowski, no que tange ao seu empreendimento clínico embrionário, sempre relacionando-as com a categoria de manifestação fenomenológica específica de nosso objeto de estudo. A abordagem da intuição da essência dos IpVs, num momento posterior, mostrou que, para além de suas diferentes formas de manifestação anteriormente descritas, trata-se estes de um fenômeno paradoxal: obstáculo e empecilho, por um lado, mas principal norteador diagnóstico e clínico na condução dos casos, pelo outro. Desta forma, conclui-se que, ao invés de se falar em uma essência dos IpVs, são os próprios IpVs a essência do AT, o qual se propõe ser re-pensado, eticamente, como a clínica do impasse