Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Ricarte, Vania |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-16102020-155242/
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Resumo: |
Este estudo tem como principal objetivo refletir sobre as possíveis implicações da relação entre as línguas materna e estrangeira na constituição identitária do sujeito-bilíngue (educador e educando) de escolas brasileiras bilíngues português-inglês. Partindo da premissa de que a maioria dos programas bilíngues está filiada a um paradigma \"monoglóssico\" (cf. GARCÍA, 2009), que pressupõe a dissociação entre as línguas (materna e estrangeira) no processo de ensino-aprendizagem, buscamos compreender os sentidos que sustentam essa visão de ensino a fim de problematizá-los. Para isso, delineamos como a monoglossia se estabeleceu historicamente, relacionando-a a processos ideológicos e inconscientes, em uma discussão sobre as concepções de identidade/subjetividade, língua e ensino. Assim, baseamo-nos no dispositivo teórico-metodológico da Análise de Discurso que tem seus fundamentos em Michel Pêcheux ([1983] 2015), numa interface com os Estudos Culturais Pós-estruturalistas (DERRIDA, [1996] 2001; BHABHA, 1998; HALL, 1997) e a Psicanálise (LACAN, [1966] 1998; LEBRUN, 2007). Tendo em vista que essas três linhas teóricas compartilham tanto a noção de sujeito quanto a noção de língua como incompletos e fragmentados, nossa hipótese é que, embora os sentidos predominantes de educação bilíngue no Brasil se sustentem no modelo monoglóssico, a condição heterogênea da língua e do sujeito de linguagem redunda em uma complexa relação entre as línguas ditas materna e estrangeira, cuja hibridação é constitutiva. A partir do exame do corpus - constituído por entrevistas com educadores e educandos e recortes midiáticos -, nosso gesto de interpretação nos possibilitou identificar duas representações correntes de \"língua\" que permeiam o discurso escolar bilíngue: a língua-sistema e a língua-instrumento. Como a análise apontou, subjaz a essas representações imaginárias a injunção do pensamento monoglóssico, que tem por efeito um processo de hierarquização de línguas-culturas-sujeitos, em um patente enaltecimento do \'falante nativo\'. Não obstante, ainda que prevaleça uma regularidade dos movimentos de aproximação do saber monoglóssico no fio discursivo, vimos que os sujeitos-entrevistados ocupam posições enunciativas conflitantes, ou seja, divergentes dos sentidos homogeneizantes e historicamente estabilizados, ressonantes em seu dizer. Esses posicionamentos revelam sentidos específicos, mais fluidos, sobre língua e educação bilíngue, derivados da própria experiência subjetiva dos enunciadores. Concluímos, assim, que, sob a égide da monoglossia, os sujeitos-educadores/educandos bilíngues veem-se tolhidos de fruir sua cultura intersubjetiva e interlinguística constitutiva. Por conseguinte, objetivos potencialmente mais amplos para o espaço educativo e híbrido da escola bilíngue, como a reflexão sobre as línguas e sobre o lugar de entremeio do aprendiz, entre línguas e culturas, são preteridos em nome da \"instrumentalização\" do aluno na língua inglesa. Com base nessa conclusão, ressaltamos a importância de uma prática pedagógica que vise a desconstrução da suposta estabilidade das noções de língua e identidade, de modo a privilegiar as vozes do aluno e do professor. |