Resumo: |
INTRODUÇÃO: pacientes com diagnóstico de neoplasia ativa apresentam maior risco de complicações graves após infecção pela COVID-19, incluindo insuficiência respiratória aguda, necessidade de ventilação mecânica e morte. Dados sobre abordagens terapêuticas especificas nesta nessa população ainda são escassos. Durante a infecção causada pelo SARS-CoV-2, ocorre um desiquilíbrio entre angiotensina 1 e angiotensina 2, que é diretamente responsável pela piora da lesão pulmonar aguda e, portanto, o uso de drogas que atuam no bloqueio do sistema renina-angiotensina pode atenuar o este desequilíbrio e consequentemente mitigar a instalação de lesão pulmonar aguda inflamatória. Da mesma forma, a ivermectina é uma droga amplamente disponível que já demonstrou atividade antiviral em estudos pré-clínicos. Este estudo avaliou o uso da losartana associado a ivermectina com o objetivo de diminuir a incidência de resultados graves devido à infecção por coronavírus entre esses pacientes oncológicos. MÉTODOS: este foi um estudo de fase II randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Pacientes oncológicos com diagnóstico de infecção leve a moderada por COVID-19 foram randomizados para receber 50 mg de losartana por 15 dias mais uma dose única de 12 mg de ivermectina ou placebo. O desfecho primário foi a incidência de complicações graves, definidas como necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (UTI), necessidade de ventilação mecânica (VM) ou óbito. Os desfechos secundários foram segurança e aderência ao tratamento. As análises de eficácia foram calculadas para a população com intenção de tratar (ITT). Valores de P abaixo de 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. RESULTADOS: setenta e sete pacientes foram considerados aptos para o estudo e 69 pacientes foram randomizados. Após a randomização, 35 pacientes foram designados para o braço losartana + ivermectina e 34 pacientes foram designados para o braço placebo. Após a publicação de estudos randomizados de fase 2/3 que demonstraram a ineficácia da ivermectina e losartana separadamente como tratamento para COVID-19, uma análise de futilidade não planejada foi realizada e o estudo foi encerrado definitivamente. A idade mediana dos pacientes randomizados foi de 50 anos. Cinquenta e nove por cento (n = 41/69) dos pacientes tinham doença metastática e estavam recebendo tratamento sistêmico ativo, enquanto apenas 16% (n = 11/69) estavam recebendo tratamento sistêmico com objetivo curativo. Setenta e sete por cento (27/35) dos pacientes no braço experimental não foram vacinados e 5,7% (2/35) receberam o esquema completo de três doses. Da mesma forma, 73,5% (25/34) dos pacientes que foram alocados para o braço placebo não foram vacinados e um paciente (2,9%) foi totalmente vacinado. Nenhuma diferença no estado de vacinação foi observada entre os braços (p = 0,36). Tratamento adicional para COVID-19 foi oferecido a 37,7% (26/69) dos pacientes do estudo, e nenhuma diferença foi observada entre os braços experimental e placebo (p = 0,54). O uso de losartana e ivermectina não melhorou os resultados da COVID-19 em comparação com o placebo. Um total de 15 eventos graves ocorreu na população do estudo. Sete (20%) pacientes no braço losartana + ivermectina apresentaram complicações graves de COVID-19 versus 8 (23,5%) pacientes no braço placebo (p = 0,77). Não foi observada diferença na necessidade de internação em UTI (17,1% no braço experimental versus 17,6% no braço placebo; p = 1,00) ou na necessidade de ventilação mecânica por insuficiência respiratória (17,1% no braço experimental versus 11,8% no braço placebo; p = 0,49). Quatro pacientes morreram de complicações de COVID-19 no braço losartana + ivermectina, enquanto três pacientes morreram no braço placebo, e essa diferença não foi estatisticamente significativa (11,4% versus 8,8%; p = 0,69). Aderência ao tratamento foi similar entre os grupos e apenas um efeito adverso grave hipotensão sintomática foi observado nos pacientes do estudo. CONCLUSÃO: o uso da combinação de losartana 50 mg por 15 dias e ivermectina 12 mg dose única em pacientes com neoplasia e em tratamento oncológico ativo não melhorou os resultados de complicações graves secundárias a infecção por SARS-CoV-2 |
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