A ANPUR e seus desígnios: 30 anos de disputas e contingências no pensar sobre o campo do Planejamento Urbano e Regional no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Russo, Endyra de Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-12072024-160614/
Resumo: A tese persegue a ideia de \"mal-estar\" apreendida de textos e depoimentos de inte¬lectuais relevantes no campo ao refletirem sobre o próprio campo do Planejamento Urbano e Regional no Brasil. Busca construir, ao longo de seus capítulos, possíveis razões para esta sensação, identificada pelo sociólogo Pierre-Bourdieu - cujo refe¬rencial norteia a pesquisa, como decorrente da ocupação da posição dominada, na qual o agente, por não dominar as regras do jogo, se vê constantemente \"fora do lugar\". Campo interdisciplinar e intersetorial, de difícil contorno, o Planejamento Urbano e Regional no Brasil não possui uma graduação correlata, tampouco, uma profissão regulamentada. Seu corpo de agentes é definido no âmbito da prática profissional e da pós-graduação. No quadro da educação superior brasileira, a Asso¬ciação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR) faz as vezes de \"chanceler\" do saber, elencando e reverenciando autores e abordagens, e desta forma, delimitando o campo no mundo acadêmico. Neste, mos¬tra o ranking de financiamento das agências de fomento científico, o conjunto de seus programas-membro ocupa posição inferior. No universo profissional, a pauta a que se dedica sofre sobremaneira com flutuações políticas, ressaltando a pouca prioridade da agenda. A ANPUR marca posição nessas frentes, mas sua atuação tem tido alcance limitado, como se depreende do levantamento das ações efeti¬vadas por ela nos seus primeiros 30 anos. O \"mal-estar\" de seus representantes se evidencia ainda mais em termos de notoriedade, quando se coteja pessoas e temas que receberam reconhecimento fora do campo - laureados com prêmios acadêmi¬cos ou profissionais, ou indicados a postos de destaque na administração pública, e aqueles valorizados pela ANPUR, que receberam as insígnias concedidas por ela ou que ocuparam os mais altos cargos de sua direção. A análise de correspondên¬cia múltipla, método estatístico utilizado para visualizar no plano bidimensional o espaço social de correlações entre indivíduos e atributos, revelou um campo pola¬rizado, com o polo da ANPUR e daqueles de diplomação variada de um lado, e o polo do prestígio externo e dos arquitetos-urbanistas, de outro. A imagem reforça a sensação de \"deslocamento\", e expõe as disputas epistemológicas acomodadas pela Associação. A ampliação recente do investimento público na formação superior e o crescimento exponencial de cursos na área CAPES de Planejamento Urbano e Regional (PUR) têm acirrado essa contenda interna à Associação, ao mesmo tem¬po em que pressiona pela sua especialização, com a saída de membros oriundos de outras áreas CAPES, como Economia, Administração e Ciências Sociais. Assim, embora disponha desde 2004 de uma agremiação própria, a Arquitetura e Urbanis¬mo segue como a área mais volumosa na ANPUR, ao lado da Geografia e de PUR. É esta que conforma, de maneira numericamente mais significante, a pauta neste campo do saber, o que aparece, em especial, nos grupos de trabalho dos Encontros Nacionais da ANPUR, como sistematizado. É esta, pois, outra fonte de \"mal-estar\". A tese conclui, portanto, pela importância de se debruçar sobre a produção do co-nhecimento, objetivando suas disputas, às vezes pouco explicitas, mas desveladas pela senda das emoções suscitadas