A sintaxe das construções semiclivadas e pseudoclivadas no português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Resenes, Mariana Santos de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-13102014-181231/
Resumo: Esta tese tem por objetivo descrever e analisar, com base na Teoria Gerativa, as construções semiclivadas e pseudoclivadas no português brasileiro. Reconhecemos, para ambas as construções, a necessidade de uma análise dual, que identifica dois tipos. Quanto às semiclivadas, um tipo (e este é o grande grupo) recebe uma análise monoracional e independente das pseudoclivadas, são as chamadas semiclivadas verdadeiras, e o outro, bem delimitado e restrito, recebe uma análise bioracional, como uma versão reduzida das pseudoclivadas. Em nossa proposta de uma análise monoracional para a sintaxe das semiclivadas verdadeiras, a cópula, que imediatamente precede o foco, é a realização de uma categoria funcional envolvida no estabelecimento de relações de predicação, um RELATOR ou LINKER, seguindo a sintaxe da predicação desenvolvida em Den Dikken (2006a). Explorando a aplicação de Inversão de Predicado, com suas implicações, como a emergência de uma cópula, o congelamento do sujeito da predicação (que fica in situ) para manipulações sintáticas, e que recebe, invariavelmente, a interpretação de foco nas interfaces, alargamos o tratamento conferido à sintaxe da predicação, tratando inclusive a relação \'objeto de\' como uma relação essencialmente predicacional. Por sua vez, quanto às pseudoclivadas, os dois tipos reconhecidos recebem ambos análises bioracionais (contra análises monoracionais e de reconstrução). A proposta de uma análise dual para as pseudoclivadas, em tipo A e tipo B, na esteira de Den Dikken, Meinunger & Wilder (2000), se fundamenta na heterogeneidade dos dados em nossa língua - sobretudo com relação às diferenças entre os dois padrões dessas construções (com oração-wh inicial e final) e ao tipo de oração-wh que pode ocorrer em cada qual (interrogativa ou relativa livre) - que resistem a um tratamento único, inteiramente homogêneo. Essa análise dual tem alcance interlinguístico, parcial ou total, de acordo com as características das línguas. Procuramos mostrar como orações-wh diferentes estão relacionadas a padrões diferentes de pseudoclivadas, cada qual com uma estrutura sintática particular, bem como algumas decorrências que delas surgem e que contrastam entre si, conforme previsto. Mostramos, ainda, dentre os polêmicos efeitos de conectividade que as pseudoclivadas podem exibir, quais merecem tratamento sintático e quais não. Conectividades envolvendo anáfora e pronomes ligados são melhor tratadas sob uma perspectiva semântica, haja vista sua ocorrência mesmo em copulares especificacionais não-clivadas, independentemente da ordem entre os termos pré e pós-cópula, e para as quais mesmo um tratamento via reconstrução (última chance de um tratamento ainda sintático) é, às vezes, impossível. Crucialmente, as conectividades envolvendo IPN (itens de polaridade negativa) e Caso são as distintivas para a análise das pseudoclivadas em dois tipos. As pseudoclivadas do tipo A recebem uma análise bioracional com elipse, na qual a oração-wh é uma interrogativa e o contrapeso, uma resposta sentencial completa para essa pergunta, sujeita à elipse preferencial do material repetido. Assim, em analogia aos question-answer pairs, essas pseudoclivadas são chamadas de self-answering questions, com uma estrutura \'tópico-comentário\', cuja ordem é rígida, resultando somente no padrão com oração-wh inicial (pergunta<resposta). Já as pseudoclivadas do tipo B, por sua vez, têm uma estrutura predicacional como base, uma small clause. Elas recebem uma análise também bioracional, mas do tipo WYSIWYG (what you see is what you get), em que a oração-wh, aqui uma relativa livre, é o predicado, e o XP, seu sujeito, necessariamente o foco da sentença. A relativa livre, na qualidade de um predicado nominal, está sujeita à Inversão de Predicado; consequentemente, a ordem das pseudoclivadas do tipo B é mais flexível, produzindo tanto o padrão com oração-wh inicial, quanto final. Por fim, resgatamos o segundo tipo de semiclivadas, o pequeno grupo restrito que é uma versão reduzida das pseudoclivadas, como evidenciado pelos fatos relativos à concordância do verbo lexical. A ocorrência dessas semiclivadas é limitada às semiclivadas de sujeito. Em face de dois tipos de pseudoclivadas, mostramos que somente as do tipo A permitem \'redução\'. Colaboram para isso a rigidez na ordem, característica das semiclivadas e apenas das pseudoclivadas do tipo A, e a possibilidade de omissão do pronome wh (\'wh-drop\'), possível em interrogativas (como uma opção disponível na Gramática Universal), mas nunca em relativas livres. Sendo essas pseudoclivadas reduzidas restritas às de sujeito, seu wh nulo (ocorrência de \'wh-drop\') é reanalisado como prowh nas línguas românicas que dispõem dessas construções.