Sobre (o) viver na Universidade: grupo reflexivo mediado por contos como cuidado em saúde mental de estudantes de graduação

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Gomes, Mayara Karolina Alvarenga Recaldes
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-28112024-183548/
Resumo: A saúde mental dos estudantes de graduação tem gerado preocupações, dados as manifestações de sofrimento e o aumento da percepção de sinais e indicadores de sofrimento psíquico nessa população. Diante disso, esta pesquisa teve o objetivo geral de propor e analisar um dispositivo de grupo para o cuidado em saúde mental de estudantes de graduação, utilizando contos como objeto mediador. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo, de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, com o método psicanalítico. Os objetivos específicos foram: caracterizar o sofrimento psíquico dos participantes nas dimensões intrassubjetiva e intersubjetiva, manifestadas na intersecção entre os espaços psíquicos singulares e o comum partilhado no grupo; caracterizar as dimensões institucionais do sofrimento psíquico do estudante de graduação, relacionadas aos funcionamentos da universidade e à atividade de estudo, e sua repercussão nos vínculos estabelecidos entre os estudantes enquanto pares, com os docentes e demais participantes da instituição, com a universidade e com o próprio projeto de formação pessoal e profissional; discutir critérios para a escolha dos contos a serem usados como objetos mediadores, dadas as características próprias do dispositivo em estudo. Na etapa de campo, realizou-se um grupo reflexivo mediado por contos com oito estudantes de graduação de uma universidade pública do Centro-Oeste do Brasil, com dez sessões semanais. A tarefa explícita do grupo foi escutar um conto e refletir, a partir do conto, sobre o viver junto na universidade. Os dados foram analisados à luz das teorias psicanalíticas de grupo e instituições. Foram necessárias algumas alterações no enquadre para atender às características do campo de pesquisa e ampliar a adesão ao grupo. O espaço de discussão pós-grupo foi essencial para a análise da contratransferência em jogo no grupo. Os contos foram escolhidos, principalmente, a partir da análise da cadeia associativa grupal, considerando a pertinência do tema com a tarefa e o momento do grupo. O sofrimento dos estudantes apresentou-se sob a forma de solidão e apassivamento e na tensão entre o prazer e desprazer na relação com a universidade, os pares, o estudo e o projeto de futuro. Notou-se uma mudança na representação da universidade de um lugar de transformação pessoal e social para um lugar de dor, sofrimento e morte. Os pares eram percebidos como competidores e avaliadores; os professores vistos ora como vítimas das formas de gestão da universidade, ora como perseguidores dos alunos. O sentimento de frustração permeava a relação com o estudo e o projeto de vida. A gestão neoliberal da universidade, especialmente a cobrança de alto desempenho em tempo diminuto, parece fornecer riscos à saúde mental, especialmente aos processos associativos essenciais à aprendizagem. Observou-se o conflito entre os funcionamentos institucionais e o funcionamento psíquico dos estudantes, marcado por idealismo e imediatismo que compõem a imaturidade saudável do adolescente. Diante disso, condutas disruptivas e baixa adesão ao grupo comunicavam falhas do ambiente universitário frente aos desafios de seus estudantes. Notou-se, nos participantes, indícios de resgate da capacidade associativa e ampliação do interesse pela literatura, indicando a abertura para um viver criativo e espontâneo.