Maternidade, assombro e elaboração: reflexões psicanalíticas sobre a vivência da maternalidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Ferrari, Rachele da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-15082022-135319/
Resumo: Partindo do neologismo maternalidade, que Paul-Claude Racamier propõe para nomear o conjunto de processos psicoafetivos que se desenvolvem e se integram na mulher durante a maternidade, esta tese irá propor a compreensão desta vivência como uma situação com potencial traumático. Analisarei os modos de viver e sofrer a experiência da maternidade, sem dar foco à psicopatologia e sim ao que parece ser próprio, de modo amplo, de quem passa por essa vivência. Esta pesquisa é realizada com o método psicanalítico, que se baseia no enquadre da situação analítica, na associação livre e na atenção flutuante. Os materiais clínicos a partir dos quais formulei minhas questões e que orientaram minha pesquisa vieram de três fontes: entrevistas individuais, um grupo de reflexão e vinhetas clínicas de atendimento em meu consultório particular. Tais materiais foram tratados como fatos clínicos e transformados em pequenas vinhetas que foram inseridas em diálogo com a teoria, ao longo do texto. Uma vez que esta pesquisa está atenta aos modos de viver a maternidade no mundo contemporâneo, proponho um diálogo com o sociólogo Hartmut Rosa, que estuda este momento histórico, chamado por ele de Modernidade Tardia. A partir das ideias de Donald Winnicott, acerca do amor materno e setting social será discutida a importância do ambiente mais próximo à dupla mãe-bebê na vivência da maternidade. Acompanhada das contribuições de Leopoldo Nosek, proponho que, diante de eventos inéditos da vida, é preciso buscar novas respostas; e que, para viver algo novo e aprender com isso, é preciso se deixar afetar por essa nova situação, ser tomado pelo assombro e confiar no que poderá advir. A partir de uma vinheta clínica em articulação com as ideias de Regine Prat, Leopoldo Nosek e Renné Roussillon, apresento uma discussão sobre o impacto da entrada na parentalidade, especialmente na maternidade, tomada como uma situação com potencial traumático e compreendida como um momento de intensa exigência de trabalho psíquico. Em seguida, analiso os trabalhos psíquicos que precisam ser acionados na entrada da parentalidade. Michel de MUzan, Didier Anzieu e Renné Roussillon serão interlocutores fundamentais para minha argumentação. Proponho que há um trabalho psíquico específico deste momento que podemos nomear de trabalho da maternalidade / da parentalidade. Com Rozsika Parker discuto a ambivalência materna, seus impasses e sua relação com uma vivência criativa na maternidade. O percurso desta tese levou-me à construção de um novo conceito, a metapsicologia da maternidade, a partir da admissão de que há algo próprio da experiência da maternalidade que podemos supor que aconteça de modo amplo com as mulheres que se tornam mães, que inclui o choque, o arrebatamento, o saisissement (De MUzan), o assombro, uma regressão, a perda da identidade anterior e a reordenação de uma nova identidade, evento sempre processual e interminável. Há ainda a compreensão de que o funcionamento psíquico dos pais sobretudo da mãe obedece, portanto, a uma nova tópica, que inclui a representação mental da criança no território psíquico parental