Grande Sertão: a polifonia semiotizada

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Santos, Daniela dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-06102022-112524/
Resumo: Mikhail Bakhtin criou o conceito de polifonia uma metáfora vinda da teoria musical para designar romances em que ação representa a vida no seu fluir vasto, lento e profundo. Bakhtin não fez uma súmula de seus conceitos, de modo que a polifonia ainda não é bem definida, causando divergências e mal-entendidos entre os estudiosos do conceito. Dessa forma, nosso objetivo é operacionalizar semioticamente o conceito, mostrando-o como um fazer-sentir do enunciatário, além disso, expondo como pode ser aplicável em outros romances, não apenas nos de Dostoievski ou seja, tornando-o aplicável, porque repetível. Para isso, nosso corpus será o romance de João Guimarães Rosa Grande Sertão: Veredas. Em um primeiro momento, demonstraremos que Grande Sertão é um romance polifônico a partir de um diálogo velado entre Riobaldo e seu interlocutário (o senhor). Utilizamos para isso as modalidades veridictórias propostas por Greimas e Courtés (2020). O romance em pauta carrega a síntese do gênero sob a perspectiva do filósofo russo: os problemas e as contradições desta vida não se resolvem, são irremediáveis, o universo de sentido é plural. Do lado da teoria semiótica de base greimaisana, chegamos à construção semiótica dos atores. Na vizinhança com o pensamento de Bakhtin, depreendemos que tal construção actorial, que é discursiva, é, antes de qualquer coisa, a representação de consciências plurais, nunca de um eu único, mas produto da interação de muitas consciências, dotadas de valores próprios, que interagem ao longo da narrativa, preenchendo, com suas vozes, as lacunas deixadas no enunciado de seus interlocutores. Em um segundo momento, buscamos demonstrar como a polifonia está, também, adensada, em especial no ator do enunciado Riobaldo. Para isso, nós nos apoiamos na análise semiótica que apontará para o fato de que há uma aspectualização dos atores envolvidos. O ator em destaque despontará do discurso e das profundidades tensivas (ZILBERBERG, 2011), na medida em que ele se apresenta na ordem do inacabamento actorial. Enfatizamos que é fundamental, para a noção de ator, as bases teóricas oferecidas pela semiótica discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2008). Por fim, procuramos demonstrar como essas lacunas, de acordo com a teoria de Landowski (2009), conduzem o enunciatário roseano a deslizar para a constelação da aventura; e pela teoria de Zilberberg (2004, 2007 e 2011), levam o enunciatário a viver, como experiência semiótica, as estratégias discursivas que fundam a polifonia. Desse conjunto de significação emerge o acontecimento, tal como postulado por Zilberberg (2011). Sob essa perspectiva, o enunciatário se mantém disposto no topo do eixo do sentir, ao ficar exposto à polifonia, descrita por nós semioticamente