Na encruzilhada: a feiticeira como espelho da condição feminina no teatro português moderno e contemporâneo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Driver, Robin Alexander Simpson
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8150/tde-22022024-155537/
Resumo: Desde finais do século XIX, a figura da feiticeira tem sido evocada nas artes, assim como em estudos historiográficos, para refletir acerca da condição social da mulher. Hoje ainda, a feiticeira continua a ser uma importante figura de proa para movimentos feministas ocidentais, que a apresentam tanto como vítima arquetípica da violência patriarcal, quanto como modelo de emancipação feminina. Pensando nessas evoluções no cenário internacional e observando a presença da feiticeira na literatura de Portugal, o presente estudo busca entender o desenvolvimento de tendências comparáveis no contexto da dramaturgia portuguesa desde meados do século XX. A decisão de enfocar obras dramáticas foi motivada pelo desejo de analisar as potencialidades específicas deste tipo de literatura para a representação da feiticeira e pelo papel histórico do teatro como ferramenta de intervenção política. Foram escolhidas para análise quatro obras, duas das quais foram publicadas em 1959 O crime de Aldeia Velha, de Bernardo Santareno, e Comunicação, de Natália Correia , enquanto as outras duas foram lançadas em 2006 Feiticeiras, de Maria Teresa Horta, e Desmesura, de Hélia Correia. Essa cronologia dualística potencializa o estudo da figura da feiticeira em textos dramáticos escritos em contextos históricos sensivelmente diferentes, que tinham grandes implicações para a situação da mulher portuguesa. Além dessas questões, as quatro obras selecionadas também demonstram grande diversidade formal, permitindo a consideração de abordagens dramáticas distintas quanto à representação da feiticeira. Nesse sentido, vemos cada um dos dois anos de publicação das obras do nosso corpus como uma encruzilhada, ponto de concentração de preocupações variadas, a partir do qual podem ser contempladas perspectivas divergentes sobre o objeto do nosso estudo. A fim de melhor direcionar o nosso percurso, definimos três eixos orientadores em função dos nossos objetivos: corpo, palavra e comunidade. Nessa linha, vemos que, em O crime de Aldeia Velha, a feiticeira é representada primariamente como uma vítima de uma sociedade profundamente patriarcal, que sequestra até os relacionamentos tecidos entre mulheres. Por outro lado, Comunicação apresenta uma feiticeira-poetisa que, perseguida por causa das suas declarações magico-poéticos, sacrifica-se a fim de realizar uma revolução a nível cósmico. Já em Feiticeiras, Maria Teresa Horta vale-se do seu envolvimento com a segunda onda feminista em Portugal para retratar uma comunidade de feiticeiras que resistem valentemente à repressão patriarcal. Finalmente, Desmesura, uma releitura do mito de Medeia, desestabiliza visões da feiticeira como um modelo de emancipação feminina universal ao apontar para problemáticas levantadas pela crescente consciência da interseccionalidade. Ao longo do nosso estudo, essas considerações são elucidadas com referências a perspectivas teóricas desenvolvidas por estudiosas feministas, tais como Mary Daly, Andrea Dworkin, Julia Kristeva, Hélène Cixous e Barbara Creed. Concluímos, assim, que o desenvolvimento da representação da feiticeira nas obras enfocadas reflete as mudanças que se têm produzido na condição da mulher portuguesa desde meados do século passado, assim como a evolução das pautas dos movimentos feministas do país, mas que as ideologias pessoais dos autores inflexionam profundamente a sua visão desses fatores, criando perspectivas únicas