"Manifestações psicopatológicas não-psicóticas em uma amostra da comunidade chinesa da cidade de São Paulo"

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Wang, Yuan Pang
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-06112003-093922/
Resumo: Introdução: Os transtornos mentais que ocorrem na comunidade e em culturas diversas são temas de grande interesse frente às constantes transformações sociais no mundo. A mudança do foco de pesquisa para os transtornos freqüentes na comunidade possibilitou aperfeiçoamentos metodológicos e desenvolvimento de instrumentos sensíveis para a sua detecção. A inclusão da variável cultural no estudo da psiquiatria, por sua vez, questiona o universalismo psicopatológico, a taxonomia ocidental e o diagnóstico de síndromes culturalmente específicas. Uma amostra desta visão psiquiátrica, ancorada na questão cultural e de transtornos da comunidade, são as pesquisas envolvendo neurastenia, um transtorno neurótico comum entre os chineses. O presente trabalho é um estudo observacional e transversal dos transtornos mentais comuns entre os indivíduos chineses da comunidade. Objetivo: Avaliar a psicopatologia não-psicótica dos chineses residentes na cidade de São Paulo, através de instrumentos padronizados. Material e Método: Os sujeitos da comunidade (n = 211), chineses e seus descendentes, preencheram um questionário de auto-avaliação e foram entrevistados por pesquisadores treinados. Os instrumentos utilizados foram: Chinese Health Questionnaire (CHQ-12), Escala de Sintomas Físicos, Escala de Eventos Vitais, Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e Schedule for Clinical Assessment in Neuropsychiatry (SCAN). Os dados foram analisados através de estatística descritiva, análise univariada (testes de qui-quadrado, Fisher e t de Student), análise multivariada (regressão logística), análise da curva ROC, análise fatorial exploratória (CHQ-12) e análise de correlação. Resultados: A probabilidade dos indivíduos pontuar alto no CHQ-12 ou ser casos prováveis de transtornos mentais comuns associou ao fato de ser do sexo feminino (OR = 2,31; IC95%: 1,12–4,75) e fluentes em chinês mandarim (OR = 3,37; IC95%: 1,68–6,78). Além disso, aqueles sujeitos com queixas físicas (OR = 4,20; IC95%: 1,70–10,40), relato de eventos-vitais no último ano (OR = 4,91; IC95%: 1,51–16,00) e pontuação alta no BDI (OR = 1,29; IC95%: 1,20–1,41) também tiveram maior chance de apresentar transtornos. O coeficiente de consistência interna &#61537; de Cronbach do CHQ-12 foi de 0,71 e a correlação item-total variou de 0,25 a 0,55, mostrando boa fidedignidade e homogeneidade deste instrumento. Adotando SCAN como critério-padrão, o melhor ponto de corte de CHQ-12 foi 2/3. Os seguintes indicadores de validade foram calculados a partir deste critério: sensibilidade 75%, especificidade 71%, valor preditivo positivo 55%, valor preditivo negativo 86% e taxa de classificação incorreta 28%. A curva ROC foi utilizada para avaliar a capacidade discriminante do instrumento, tendo uma área sob a curva de 0,728. O questionário CHQ-12 também se correlacionou significativamente com Escala de Sintomas Físicos (p < 0,005), Escala de Eventos Vitais (p < 0,005), BDI (p < 0,0005) e IDATE (p < 0,05). Na análise fatorial exploratória, três dimensões psicopatológicas explicaram 47,8% da variância total do CHQ-12. O conteúdo sintomatológico avaliado por este instrumento pode ser descrito como tridimensional, contendo fator somático, depressivo e de preocupação. As entrevistas do SCAN (n = 25) geraram diagnósticos de distimia, depressão e insônia não orgânica (CID-10). Os item-grupos “mau funcionamento subjetivo" (p < 0,005) e “características especiais de depressão" (p < 0,005) predominaram no perfil sintomatológico dos casos positivos de SCAN. Conclusão: Os transtornos mentais comuns predominantes na comunidade chinesa de São Paulo são os transtornos neuróticos, muito sugestivos de neurastenia. Os sujeitos chineses da comunidade apresentam uma psicopatologia própria, semelhante àquela dos indivíduos do seu país de origem. O CHQ-12 é um instrumento de rastreamento culturalmente sensível, que apresenta evidências de confiabilidade e validade para ser aplicado em outras populações de chineses.