Hibridização e vida social - um olhar comparativo entre Memorial do convento, de José Saramago e Bartolomeu de Gusmão: Inventor de aerostato, a vida e a obra do primeiro inventor americano, de Afonso E. Taunay

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Sanchez, Inaiê Lisandre Costa Garcia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-21062012-161608/
Resumo: O trabalho aqui apresentado insere-se na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa e fundamenta-se na teorização sobre o hibridismo cultural e sua in-fluência nas sociedades. Tem-se em vista discutir a circulação dos repertórios culturais entre Brasil e Portugal, tal como aparecem na figura de Bartolomeu Lourenço de Gus-mão em duas obras literárias: no romance Memorial do convento, de José Saramago, e na biografia Bartolomeu de Gusmão: Inventor do aeróstato, a vida e a obra do primeiro inventor americano, de Afonso de E. Taunay. Nessa trajetória, enfocaremos como os dois autores tratam da hibridez de Gusmão, além de outros aspectos referentes ao múlti-plo e ao plural, seja no que diz respeito às obras em si, à construção de identidades em um mundo de fronteiras flutuantes e ao hibridismo como resultado do colonialismo. A hibridação permeia todos os níveis das produções culturais das sociedades e, portanto, dos fluxos entre as literaturas. Em um mundo de fronteiras flutuantes, é imprescindível buscarmos novas associações no campo do comunitarismo cultural ao qual historicamen-te nos vinculamos. A essência marcadamente híbrida de Gusmão é ressaltada tanto por Taunay como por Saramago. A partir do múltiplo, ambos unificam o personagem na figura do herói, apesar de, em Saramago, o herói fazer parte de um grupo. Em uma cons-trução biográfica de caráter transtextual, Taunay visa provar a prioridade aerostática de Gusmão e dar-lhe as glórias que não recebeu em vida. Vemos então um homem de fé, religioso e grande cientista injustiçado pela sociedade portuguesa do século XVIII. Já Saramago constrói um Gusmão profano, herético, desequilibrado, que caminha para a loucura e a morte após construir sua passarola. Esta representa o escape de um mundo opressor e injusto, em uma manobra utópica que nos remete ao sonho de Ícaro e coloca não o divino, mas o homem como o responsável pela dinâmica do mundo. Por meio de um texto que mistura história e ficção, passado e presente, ironia e transtextualidade em uma mescla de gêneros literários, Saramago faz uma releitura da História portuguesa para que melhor possamos compreender o presente e atuar criticamente para modificá-lo. Paralelamente, constatamos que devido à sua constituição altamente híbrida desde a Pré-História, sem exclusivismos de raça ou cultura, a sociedade portuguesa apresentou uma burguesia atípica, ficando marcada por uma rusticidade resultante da passagem de uma sociedade não totalmente tradicional a uma não tipicamente moderna. O seu ingresso tardio no coro europeu apenas a partir dos grandes descobrimentos marítimos determinou um tipo de sociedade que se desenvolveu, em alguns sentidos, quase à margem das ou-tras nações europeias e constitui-se uma zona de transição por ser uma das pontes pelas quais a Europa comunica-se com outros mundos. A plasticidade social portuguesa in-fluenciou na formação do Brasil colônia, em uma hibridação que se aprofundou através da mesclagem com índios e negros, possibilitando o nosso caráter tipicamente híbrido e não apenas multicultural.