Câncer de mama em mulheres lésbicas: significados atribuídos por pacientes e suas parceiras ao adoecimento e ao tratamento oncológico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Souza, Carolina de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-12122019-104447/
Resumo: O câncer de mama é o segundo tipo de neoplasia que mais ocorre com as mulheres do Brasil e do mundo, correspondendo a 29% dos casos novos a cada ano no país. Como as taxas de incidência e sobrevivência das neoplasias mamárias são altas na atualidade, muitas mulheres irão conviver com as sequelas do seu tratamento por um período relativamente prolongado. Isso torna cada vez mais oportuno que se invista em estudos que levem ao desenvolvimento de intervenções que possam contribuir para melhorar a saúde psicológica e física dessas mulheres. A literatura dedicada aos aspectos relacionados à sexualidade da mulher acometida parte do pressuposto de que ela tem uma orientação heterossexual, consoante ao pressuposto naturalizado da heteronormatividade. Considerando essas premissas, este estudo tem por objetivo compreender os significados atribuídos por mulheres lésbicas com câncer de mama ao adoecimento e suas vivências do tratamento oncológico. Trata-se de um estudo qualitativo, transversal, descritivo-exploratório e que teve como referencial teórico os estudos de gênero. Participaram sete mulheres, sendo que quatro receberam diagnóstico de câncer de mama e realizaram tratamento oncológico e três eram as parceiras íntimas. Para a construção do corpus de análise foram realizadas sete entrevistas narrativas episódicas, com questões que buscaram circunscrever os significados que as mulheres homossexuais, e suas parceiras, atribuem à doença e ao tratamento. As entrevistas foram realizadas individualmente, em situação face a face, com duração entre 77 minutos a 331 minutos, e audiogravadas mediante autorização das participantes. Após a coleta de dados, o conteúdo audiogravado das sete entrevistas foi transcrito literalmente e na íntegra. Posteriormente, os dados foram analisados e discutidos na perspectiva da análise de conteúdo temática indutiva. Os resultados mostraram que o tratamento do câncer causa inúmeras modificações corporais e todas as participantes que tiveram a doença trouxeram algum ou vários prejuízos físicos decorrentes. Os significados atribuídos por elas a esses comprometimentos ficaram, em grande parte, circunscritos à dimensão física/corporal: dores, limitação de movimentos e outras sequelas e complicações. As mulheres acometidas vivenciaram a mastectomia como um processo muito agressivo e que impactou sua imagem corporal. As vivências da quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia foram marcadas por cansaço e dores e pelas mudanças que esses processos desencadearam no relacionamento do casal. As companheiras focalizaram mais nos aspectos emocionais vivenciados junto às suas parceiras e intensificaram seus laços de cumplicidade e companheirismo. Pôde-se observar também que algumas participantes se sentiram bem recebidas pelos profissionais nos serviços de saúde, enquanto outras relataram diversas experiências de preconceito e discriminação por parte de homens médicos pelo fato de serem um casal lésbico, o que impactou negativamente a qualidade do vínculo e da aliança de trabalho. Discute-se que a não percepção de preconceito e discriminação durante o tratamento pode estar relacionada à invisibilização no serviço do relacionamento lésbico. Espera-se que o conhecimento produzido neste estudo possa contribuir para a implementação de estratégias de promoção e prevenção de saúde junto aos serviços de tratamento e reabilitação psicossocial voltados à mulher submetida à mastectomia, possibilitando o desenvolvimento de políticas sociais e públicas implementadas pelo Estado que sejam sensíveis à diversidade sexual e de gênero