Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2021 |
Autor(a) principal: |
Oliveira, Mayara Sanay da Silva |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6138/tde-30062021-160413/
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Resumo: |
Introdução: as mulheres brasileiras são as principais responsáveis pelas práticas e as habilidades culinárias domésticas necessárias para obter, preparar e oferecer os alimentos à família. Estudos sugerem que os problemas de saúde das mulheres podem ser agravados pela sobrecarga de atividades dentro e fora do domicílio. Objetivo: investigar as dinâmicas de gêneros relacionadas às práticas culinárias domésticas, ao aprender e ensinar as habilidades culinárias e aos arranjos de divisões dos trabalhos culinários domésticos das mães vivendo em Cruzeiro do Sul - Estado do Acre - Amazônia Ocidental Brasileira. Métodos: desenvolveu-se um programa de pesquisa qualitativo de fundamentação interpretativa feminista no contexto do seguimento de dois anos do \"Estudo MINA-Brasil: saúde e nutrição materno-infantil em Cruzeiro do Sul, Acre\". Produziu-se os dados a partir de entrevistas em profundidade com 16 mulheres, autorreferidas cisgêneros, com idades entre 18 e 41 anos, que cozinhavam em casa no mínimo uma vez ao dia e que eram mãe de, ao menos, uma criança com 2 anos de idade. Também, entrevistou-se 5 homens, autorrelatados cisgêneros e cônjuges dessas mulheres. Analisou-se os dados a partir da análise de conteúdo, assim se identificou as unidades de significâncias regulares, expressivas e significativas presentes nas entrevistas. Interpretou-se os dados a partir das teorias: do sistema linguístico culinário apresentada pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, das práticas sociais da alimentação proposta pelo sociólogo Alan Warde, da performatividade de gênero segundo a filósofa Judith Butler, e do fazer gênero de acordo com a socióloga e do sociólogo Candace West e Don Zimmerman. Resultados: As mulheres desenvolveram suas habilidades culinárias em diferentes momentos da vida. Na infância, elas foram ensinadas por figuras maternas e aprenderam habilidades culinárias necessárias para preparar a comida tradicional de seus locais de origem, a \"comida da mata\". Na idade adulta, foram ensinadas por suas empregadoras a desenvolveram habilidades culinárias necessárias para o trabalho remunerado doméstico, expresso através do cozinhar a \"comida da cidade\". Notoriamente, essas mulheres, também, foram ensinadas por seus maridos a cozinhar alimentos que atendessem aos gostos e aos padrões alimentares deles. Diferentemente, essas mulheres ensinavam às crianças habilidades culinárias para desenvolver sua autonomia alimentar, não sobrecarregar outras mulheres e promover a divisão igualitária do trabalho culinário doméstico. Apesar disso, a maioria das entrevistadas realizavam, em suas casas, atividades culinárias rotineiras, não discricionárias, com maior consumo de tempo e focadas para seus familiares. Enquanto seus cônjuges realizavam poucas (ou nenhuma) atividades culinárias domésticas, sendo a maioria destas dedicadas ao autocuidado ou ao lazer. Esse arranjo ficou, especialmente, evidente durante o processo de transição para a maternidade, pois quando não tinham crianças, as entrevistadas mencionaram realizar práticas culinárias atendendo suas demandas pessoais e horários do trabalho extradomiciliar. A partir do nascimento das crianças, as mulheres modificaram suas práticas culinárias se apropriando das ideias hegemônicas do que é ser mãe, desenvolvendo atividades culinárias focadas no cuidado dos membros da família. Nesse sentido, viu-se que as mulheres negociavam os elementos de suas práticas culinárias domésticas considerando a disponibilidade financeira individual e da família, a disponibilidade de tempo, as normas socioculturais de gênero, e as aspirações e desejos pessoais. Conclusão: denota-se que as práticas culinárias domésticas são elementos importantes para a construção e afirmação das identidades das mulheres da Amazônia ocidental brasileira. Assim, vemos que a culinária doméstica, no momento que é praticada, produz ou aciona um conjunto de efeitos de gênero que faz com que os indivíduos possam ter suas identidades femininas ou masculinas reconhecidas. Por fim, sugere-se que os resultados aqui apresentados possam contribuir para a compreensão da complexidade do processo sociocultural de gênero relacionado ao desenvolver, ensinar, compartilhar e desempenhar as habilidades e as práticas culinárias domésticas em comunidades ou membros de grupos socioculturais específicos, especialmente aqueles que vivem nos centros urbanos da Amazônia ocidental brasileira. |