A representação dentro da representação, ou marcas dramática em três episódios do Quixote de 1615: \'A Dulcineia encantada\', \'A condessa Trifaldi\' e \'A vigem de Clavilenho\'

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Toledo, Maria Cecilia Barreto de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-21082018-113207/
Resumo: O efeito de teatralidade causado na mente do leitor pela narrativa das três encenações burlescas da segunda parte do Quixote A Dulcineia encantada, A condessa Trifaldi e A viagem de Clavilenho deu origem a este trabalho. A esses episódios correspondem os capítulos XXXIV-XLI, quando dom Quixote e Sancho passam uma temporada como hóspedes dos duques e, sem saber, são transformados em atores cômicos, para a diversão dos anfitriões e seus convidados. De acordo com a perspectiva crítica de Anthony Close e de Maria Augusta da Costa Vieira, a análise, sob a visão do cômico e racional, partiu de dois pressupostos. Primeiro, o de que o Quixote é uma obra de entretenimento cuja concepção deriva do clima artístico de seu tempo, e o de que Cervantes, paralelamente ao escritor de novelas, foi um dramaturgo apaixonado pelo teatro. Propôs-se então que as três tramas estão organizadas como um todo, com começo, meio e fim, sob as diretrizes da formação de três jornadas de uma ação dramática, constituindo uma unidade episódica. Daí se infere que os três episódios se incorporam à narrativa sob a forma da comédia, de modo diferente de tantos outros que permeiam a obra: eles apresentam uma estrutura complexa, possível de ser identificada com a da comédia. O enredo da Dulcineia encantada configura o ponto de união entre a prosa e a ação dramática, constituindo a primeira jornada. Os outros dois, formando a segunda e terceira jornadas, se associam ao primeiro unidos pelo mesmo tema, o da necessidade de o cavaleiro ajudar as damas em dificuldades. Ao mesmo tempo, os três episódios integram o desenvolvimento narrativo. Essa estratégia poética, que se assemelha ao que se chama teatro dentro do teatro, provoca o desdobramento da estrutura da composição, enfatizando o tema da imitação do mundo da cavalaria andante. A análise, sempre relacionando texto e contexto, focaliza na prosa os elementos estruturantes do teatro, não só as marcas dramáticas formais, mas também os fatores que transmitem a espetacularidade das encenações. O caminho percorrido para atingir o objetivo, sob o aspecto da composição poética, é o de primeiro comparar os episódios selecionados com a obra dramática cervantina para depois relacioná-los com as preceptivas poéticas e retóricas que circulavam na Espanha naquele final de século, principalmente a Philosophia Antigua Poética de Alonso López Pinciano, e Arte nuevo de hacer comedias de Lope de Vega. Ademais, para a compreensão dos aspectos socioculturais da narrativa, a pesquisa se apoia nos preceitos e códigos de conduta da sociedade de corte à época dos Áustrias, com ênfase em El Cortesano de Lluís del Milà, bem como nos estudos, crônicas e relatos históricos sobre as festas, públicas e palacianas. Nesse sentido, este trabalho demonstra a coerência da leitura dos três episódios como uma unidade episódica com começo, meio e fim, estruturados sob a forma de uma comédia singular, o que apresenta, dentro do cenário artístico-cultural daquelas primeiras décadas do século XVII, um outro experimento cervantino de uma nova maneira de contar histórias.