Alterações anatomopatológicas em corações de camundongos submetidos à inalação crônica de cocaína crack

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2009
Autor(a) principal: Moraes, Alcides Gilberto
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-04112009-145052/
Resumo: A cocaína crack é a forma popular da cocaína nos dias de hoje, em decorrência do baixo custo relativo da droga e da rapidez dos seus efeitos no sistema nervoso central. São conhecidas alterações provocadas pela cocaína no coração de humanos e animais, sendo frequentes graves transtornos no sistema cardiovascular, muitas vezes fatais. Mas diante do crescente e preocupante aumento do uso dessa forma fumada da cocaína, particularmente pelos jovens, tornam-se necessários estudos experimentais utilizando-se a droga in natura, que não se encontra habitualmente disponibilizada para experimentos, diante das dificuldades legais. Este estudo objetivou a avaliação dos efeitos da inalação crônica da cocaína crack no coração de camundongos, tendo sido utilizados 24 animais BALB/c machos, jovens e adultos, 6 animais de cada grupo (n=6), que foram expostos à fumaça originada da queima de 5 g de cocaína, por 5 minutos, 5 dias da semana, durante 39 dias, em um período de dois meses; utilizouse uma câmara de inalação para a manutenção dos animais durante as sessões e os animais do grupo controle, em igual nº (n=6), foram mantidos no biotério em condições favoráveis. A droga teve como origem a apreensão policial (195,2 g) e o seu uso, na pesquisa previamente autorizada pela justiça. A análise farmacológica da droga constatou a presença de 57,66% de cocaína nas pedras de crack, satisfazendo as necessidades para a experiência. A quantificação de cocaína de 212,5 ng/ml no sangue dos animais também foi considerada representativa para os nossos objetivos de pesquisar alterações morfológicas no coração dos camundongos. Os resultados foram analisados pela One-Way-Anova e Modelo Linear Generalizado, e as diferenças consideradas significativas quando p< 0,05. Os estudos mostraram diminuição significativa da media (±DP) de peso dos corações nos animais expostos à droga, adultos e jovens, quando comparados com os grupos controles correspondentes. No grupo jovem, o aumento do número de núcleos, por área ventricular, pode ser relacionada com atrofia miocárdica dos ventrículos, direito e esquerdo (p< 0,001), demonstrada pela morfometria das fibras musculares estriadas cardíacas, utilizando-se o sistema de retículo de pontos. Nos adultos expostos, apesar da diminuição de peso do coração, a morfometria não constatou atrofia de miocárdio de nenhum dos lados (p> 0,05). Nos exames microscópicos das paredes ventriculares, com a coloração da hematoxilina-eosina, foi detectado, discreto número de fibras musculares cardíacas, com perda das estriações e hialinizações do citoplasma, favorecendo apoptose. A morfometria dos vasos coronarianos intramurais, com medições das luzes, camadas médias e adventícias demonstrou diminuição significativa da proporção (razão) luz/parede nos animais expostos, independente da idade, quando comparado com os grupos controle (p=0,001). Esses dados caracterizam a vasoconstrição por provável ação simpaticomimética da droga, justificando uma isquemia relativa no coração e conseqüente aumento da apoptose, bem documentada pela imunoistoquímica através da coloração do TUNEL. Esta imunocoloração marcou extensamente os núcleos de células apoptóticas, nos ventrículos direito e esquerdo dos animais expostos, quando comparado aos animais não expostos (p<0,001). A microscopia óptica com H&E e Picro-sirius sugeriu fibrose peri-adventicial nos animais expostos adultos A quantificação do colágeno, após a polarização, mostrou aumento não significativo, nos ramos coronarianos dos animais expostos adultos e interstício do ventrículo direito dos dois grupos expostos (p>0,05). As pesquisas realizadas com um modelo experimental inédito confirmam alterações anatomopatológicas já descritas na literatura, como a vasoconstrição com isquemia aguda e aumento da apoptose e mostram alterações ainda não referidas, em efeitos crônicos da cocaína, como a diminuição de peso do coração e atrofia do miocárdio. Os estudos, embora tenham limitações por não ter sido isolada outra substância eventualmente presente na amostra teste, constataram achados morfológicos importantes para a saúde pública, que devem ser pesquisados nas autópsias. Novos estudos são recomendados, utilizando-se outros tempos e ambientes de exposição, com e sem a associação de drogas, assim como porcentagens diferentes de cocaína no crack e isolando-se as substâncias presentes na droga in natura.