Contato, variação linguística e línguas africanas em materiais didáticos de português: uma análise crítica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Rocha, Tâmara Kovacs
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-13012025-115626/
Resumo: Este trabalho expõe os resultados de uma pesquisa de caráter qualitativo e base bibliográfica que consistiu na análise de quatro coleções de materiais didáticos para verificar se estão sendo levadas aos estudantes dos Anos finais do Ensino Fundamental brasileiro informações a respeito do contato linguístico entre o português e línguas africanas, o papel desse contato na formação do português brasileiro e alguns dos resultados mais concretos desse prolongado contato: línguas secretas (também chamadas de criptoletos) (Vogt; Fry, 1996; Jon-And; Lopez, 2017; Queiroz, 2018; Byrd, 2012), línguas cultuais (Castro, 2005; Queiroz, 2015b), cânticos de acompanhamento de atividades de trabalho, brincadeiras e ritos funerais, como os vissungos (Freitas; Queiroz, 2015; Luz, 2016; López, 2019), assim como variedades quilombolas de português brasileiro (Careno, 1997; Petter; Zanoni, 2005; Souza, 2000; Lucchesi; Baxter; Ribeiro, 2009). A pesquisa partiu do pressuposto de que os documentos reguladores do ensino, como as leis nº 10.639/03 e nº11/645/08 e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018) garantem a presença desse conteúdo no ensino, tanto pela via da história e tradição cultural africana e afro-brasileira quanto pela via do trabalho com variação linguística. Para a definição do corpus foram definidas as três coleções didáticas mais escolhidas pelos professores no edital do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2020, relativo aos Anos Finais do Ensino Fundamental: Tecendo Linguagens, da editora Ibep (Oliveira; Araújo, 2018), Se liga na língua, da editora Moderna (Ormundo; Siniscalchi, 2018) e Apoema, da Editora do Brasil (Teixeira et al., 2018). A essas três coleções somou-se a coleção Narrativas quilombolas: dialogar, conhecer, comunicar (Santos; Norte, 2017; Campos, 2017), publicada pela Secretaria de Educação do estado de São Paulo e distribuída em escolas de modalidade de ensino quilombola do estado. Os critérios de análise foram estabelecidos por meio de perguntas condutoras por meio das quais se procurou verificar se o conteúdo em questão estava presente em cada uma das coleções; a que nível linguístico (lexical, fonológico, morfossintático, pragmático) os resultados do contato entre línguas africanas e o português estavam associados; como foram explicados o processo de contato e a formação desses resultados; além do modo como o trabalho com a norma-padrão estruturou as atividades (Bagno, 2007, 2012; Faraco, 2008) e como foi construída a representação de agentes sociais e tradições culturais (Fanon, 2020; Nascimento, 1978). Os resultados demonstram uma forte sub-representação da história do contato e de resultados verificáveis no português brasileiro nas coleções do PNLD 2020, além do apagamento da existência das línguas cultuais e secretas, de cânticos de trabalho e de variedades quilombolas, além de, em alguns casos, representações problemáticas de grupos sociais e tradições culturais e religiosas. Ao contrário, a apostila Narrativas Quilombolas apresentou resultados positivos. A partir dos resultados obtidos, é possível levantar a hipótese de que o caráter fortemente centrado na norma-padrão na maioria das coleções do PNLD e um grafocentrismo que privilegia textos da modalidade escrita tenham contribuído para tais constatações. Concluímos, também, com a consideração de um processo de epistemicídio (Carneiro, 2005) ao qual essa ausência dá continuidade