O modelo militar no ensino de Enfermagem: um olhar histórico sob a perspectiva foucaultiana

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Mecone, Márcia Cristina da Cruz
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7140/tde-07012015-103236/
Resumo: Introdução: O presente estudo resgatou a reconfiguração da Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Filial Estado de São Paulo (EECVB-FESP) nos anos de 1940-1945, cuja instituição foi propagadora do modelo militar de ensino na enfermagem, caracterizado por relações disciplinadas e hierarquizadas dos saberes e das práticas da enfermagem. Objetivos: Esse estudo teve como objetivos: discutir elementos que configuraram os jogos de poder, saber e verdade na formação da EECVB FESP; analisar o dispositivo pedagógico que fomentava o ensino de enfermagem e seus efeitos na constituição dos modos de subjetivação nas mulheres-alunas; analisar as relações de saber/poder e a produção dos modos de subjetivação dos sujeitos no âmbito do ensino oferecido pela EECVB-FESP e discutir aspectos da legislação vigente à época, bem como seus desdobramentos sobre o ensino da enfermagem e o modelo militar de ensino dessa escola. Método: Optou-se pelo referencial proposto por Michel Foucault, tendo como base os enunciados discursivos das fontes midiáticas e documentais, que dão sustentação ao estudo, pois possibilitaram a problematização e a análise dos achados e trouxeram à tona as relações de saber-poder no campo da formação da enfermeira na EECVB-FESP. Segundo esse referencial, o pesquisador da história busca desvelar o que está posto, lança outras indagações sobre o óbvio que, por vezes, passam despercebidas no cotidiano. As fontes utilizadas foram constituídas de matérias e propagandas jornalísticas veiculadas no jornal A Gazeta, matérias publicadas nas revistas da Cruz Vermelha Brasileira e documentos da própria EECVB-FESP. Ao tomar como objeto de estudo os discursos que emergem destas fontes sobre a formação em enfermagem, a análise centrou-se na articulação e circulação das relações de saber-poder no contexto pedagógico contemporâneo. Resultados e discussão: A década de 1940 foi um período marcante na historiografia brasileira, sobretudo os primeiros anos pelas mobilizações ensejadas pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e sua imersão numa política ditatorial denominada Estado Novo (1937-1945). Entre outras profissões, a enfermagem encontrava-se presente na maquinaria de poder imbricadas do governo vigente à época, alavancando estratégias que, realocavam e reafirmavam o papel da mulher na sociedade, seja como a mãe, a esposa e a filha, ou seja, a cuidadora. O rol de documentos examinados à luz do referencial proposto perfaz uma teia discursiva que, por um lado, justifica e atualiza a importância da formação em enfermagem no período e nas possibilidades de emancipação da mulher para o espaço público. Os dados revelaram, ainda, que atrelada à falta de autonomia, havia representações da enfermeira formada pela EECVB-FESP perpassadas pelos ideais do altruísmo e da abnegação, os quais requeriam baixa complexidade de conhecimento científico para práticas das ações no contexto do cuidado enfrentadas pelos profissionais nos tempos e espaços em que tradicionalmente atuavam. No contexto legal da época, observou-se que as legislações sobre o ensino de enfermagem reforçavam o modelo militar da formação dos profissionais de enfermagem e, portanto, davam ênfase à disciplina e à hierarquização. Conclusão: As fontes analisadas, sobretudo na perspectiva midiática da época não veiculavam apenas informações, opiniões e comentários sobre as alunas/mulheres/enfermeiras, mas compunham enunciados que podem ser problematizados, pois prescreviam as formas de fazer, aprender, de ensinar e, sobretudo, de ser e de compreender o mundo, arregimentando assim uma eficaz maquinaria de governabilidade pedagógica do ensino de enfermagem do período, com forte ênfase na conduta e na disciplinarização do corpus da enfermagem. O modelo militar de formação da enfermeira a EECVB-FESP é um retrato do interesse do Estado Novo de transformar a mulher-enfermeira em mãe cuidadosa, zelosa, dócil, mas servil pois orquestrada pela dominação masculina