Resumo: |
A leishmaniose visceral, na sua forma clinica ativa, caracteriza-se por febre de longa duração, hepatoesplenomegalia e caquexia. No Brasil, a letalidade é, em média, de 7% e as principais causas de morte são: hemorragia, comorbidade com doenças imunossupressoras e infecção bacteriana. O mecanismo de aumento de infecção bacteriana na LV não está claro e uma das hipóteses, é que pode haver translocação bacteriana da mucosa intestinal para o lúmen dos vasos sanguíneos e ocasionar uma maior severidade da resposta imuno-inflamatória e com consequente piora clínica. O objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência de translocação microbiana em hamsteres infectados experimentalmente com Leishmania (L.) infantum e correlacionar com as alterações histopatológicas encontradas no intestino dos animais infectados. Hamsteres (Mesocricetus auratus) foram infectados intraperitonealmente com 2x107 amastigotas de L. (L.) infantum e eutanasiados após 48, 72 horas e 15, 45 e 90 dias de infecção. Como grupo controle foram utilizados hamsteres inoculados intraperitonealmente com meio de cultura RPMI. Foram coletados: sangue, fezes, baço, intestinos grosso e delgado. Para detecção de amastigotas na mucosa intestinal, foi utilizada a técnica de PCR em tempo real (qPCR), imunohistoquímica e análise histopatológica, sendo que nesta técnica também foram avaliadas alterações histológicas no tecido intestinal. O baço foi utilizado para determinar a carga parasitária através da técnica de Stauber. Para detecção da translocação microbiana ou produtos desde, foi realizada a quantificação de lipopolissacarídeo (LPS) em plasma. Para avaliar a possível mudança da flora bacteriana intestinal, foi realizado sequenciamento bacteriano de amostra de fezes de hamsteres controles e infectados nos vários tempos de infecção. Observamos aumento da carga parasitária em baço e em intestino com o decorrer da infecção, sendo a diferença significativa aos 90 dias de infecção. Paralelamente, observamos aumento de LPS circulante nos animais infectados em diferentes tempos, 48 horas, 72 horas, 45 dias e 90 dias, com diminuição no período intermediário de 15 dias, porém com diferença significante somente aos 90 dias após a infecção em relação ao grupo controle. Alterações histopatológicas foram observadas no intestino grosso e delgado, variando de infiltrado inflamatório leve a grave, enterite, histiocitose e ainda presença de amastigotas. As alterações observadas ocorreram a partir de 48 horas de infecção, diferenciando a população do infiltrado inflamatório entre neutrófilos, linfócitos, e ainda eosinófilos em intestino grosso de animais com 90 dias de infecção. O sequenciamento de DNA bacteriano das fezes mostra que houve alteração no microbioma dos animais, porém não há identidade significante, ou seja, acima de 95% na maioria das bactérias. Concluímos que as alterações de histologia da mucosa, a invasão de amastigotas neste tecido e o aumento do LPS, sugerem que a translocação microbiana é um evento ocorrente durante a infecção por L. (L.) infantum neste modelo experimental. |
---|