Dinâmica das relações familiares: compreendendo o convívio com familiar dependente de cuidados físicos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2007
Autor(a) principal: Decesaro, Maria das Neves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-23042007-151113/
Resumo: A dinâmica das relações familiares apresenta-se como elemento importante a ser investigado, considerando a perspectiva da integralidade do cuidado às famílias. Partimos do pressuposto que, diante de uma situação de doença, o cotidiano e as relações familiares se alteram, desencadeando processos de desestruturação e estruturação, na busca de um equilíbrio, mesmo que conflitual, para dar sustentação à nova condição de vida. O objeto de estudo para esta pesquisa está delimitado à dinâmica das relações familiares, tendo em vista a compreensão de elementos centrais que participam ou estão presentes nesta dinâmica quando, inesperadamente, a família passa a conviver com um familiar adulto que se tornou dependente de cuidados físicos. Elegemos o referencial teórico-metodológico de Michel Maffesoli circunscrito à sociologia do cotidiano, considerando que nessa abordagem a vida é vista como uma rede sutil e complexa, feita de fatos miúdos e obscuros do dia-a-dia que se concretizam em um conjunto de relações sociais, entre as quais se destacam as relações familiares. A noção de convívio carrega a idéia de experimentar emoções, compartilhar ambientes, concordar e discordar de valores, viver com o outro uma harmonia que integra a desarmonia. A perspectiva metodológica adotada foi o formismo, referenciado por Maffesoli, para quem a forma é uma alavanca metodológica que possibilita modelar o dado social, na medida em que descreve seus contornos para tecer uma estrutura objetiva e subjetiva que promove a compreensão global do fenômeno estudado. Os dados foram coletados nos domicílios das famílias e a pesquisadora utilizou-se de entrevista individual aberta, entrevista semi-estruturada e grupos focais com os membros dos núcleos familiares. Os dados foram organizados em forma de genogramas que apresentam os vínculos entre os familiares, e as falas foram recortadas segundo categorias e subcategorias que revelaram: o presenteísmo da convivência familiar nas suas dimensões de alteridade e complementaridade; o senso do limite das famílias, apontando o trágico vivido e os manifestos de teatralização; os mecanismos de resistência grupal, apontando a astúcia, o jogo da representação e o silêncio como manifestações de força e potência para o viver; e, por último, a solidariedade grupal, que coloca em cena seus aspectos mecânico e orgânico da socialidade familiar. A compreensão da dinâmica das relações em família na convivência com a pessoa dependente de cuidados físicos traz aos profissionais enfermeiros a perspectiva de uma atuação que se situa nos horizontes da contemplação e da ação co-responsável, uma vez que se insere em um espaço-tempo domiciliar e familial, onde se vivencia uma contingência trágica, com possibilidades de desestruturação e reestruturação das relações familiares. No plano das políticas públicas de Saúde, este estudo contribui, particularmente, com a estratégia da Saúde da Família, na medida em que recupera o cuidado em sua ambiência pela via da subjetividade, explicitando que o imaginário e o simbólico são elementos fundamentais para a potencialização desta importante política que orienta uma rede de cuidados. A prática do cuidado de enfermagem na família acontece em um espaço físico e social singular, portanto heterogêneo, fluido, conflitual, de construção e de desconstrução das relações familiares, que requer tecnologias de cuidado sustentadas nos princípios da sensibilidade e da conjunção fundados na ética da estética.