Caracterização de sistemas agrícolas itinerantes em comunidades tradicionais do município de Cananéia SP: implicações no tempo sobre diversidade florística, estoques de carbono e fertilidade do solo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Pereira, Manuela Franco de Carvalho da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-11022022-154011/
Resumo: O bioma Mata Atlântica é reconhecido pela sua alta biodiversidade e alto grau de endemismo, ao mesmo tempo em que é considerado um dos biomas mais ameaçados no planeta. O uso de recursos naturais por populações tradicionais que vivem e mantêm seus modos de vida nos remanescentes deste bioma gera conflitos de interesse pelo uso da terra, levantando preocupações em relação à manutenção das comunidades e à preservação dos ecossistemas naturais. Para superar estes conflitos, é necessário compreender as múltiplas relações das pessoas com o meio, avaliando o impacto de suas ações ao longo do tempo. Os sistemas agrícolas itinerantes (SAIs) consistem no cultivo de áreas rotacionadas em uma matriz florestal, por meio da derrubada e queima da biomassa arbórea com posterior aproveitamento das cinzas e material orgânico acumulado sobre o solo durante o período de sucessão secundária. As áreas são cultivadas por um curto período e depois deixadas em pousio por um intervalo de tempo mais longo. Apesar da ancestralidade dos SAIs, ainda há controvérsias sobre a viabilidade deste sistema extensivo. Assim, este estudo buscou verificar o efeito dos sistemas agrícolas itinerantes com o uso de fogo sobre a diversidade biológica e suas relações com a fertilidade do solo e estoques de carbono, tecendo comparações com áreas de floresta preservada. Foram estudados sistemas de agricultura itinerante caiçara praticados nas comunidades Bairro Santa Maria (em Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas) e RDS Itapanhapima (em Floresta de Restinga), do município de Cananéia - SP. As áreas em cultivo sob pousio e os fragmentos de floresta preservada de sete famílias caiçaras foram selecionados com base em critérios de histórico de uso, condições ambientais e técnicas de manejo do fogo. Estas áreas foram avaliadas em cronossequência para verificar eventuais alterações no tempo, sobre os estoques de carbono acima, sobre e abaixo do solo, a estrutura e a composição florística e os estoques de nutrientes do solo. Para verificar as mudanças, estabeleceu-se comparações com parcelas de floresta nativa preservada sem histórico de uso (controle). A biomassa florestal e os estoques de carbono de parte aérea e de raízes da vegetação em pousio se recuperam a níveis equivalentes às áreas de floresta preservada após 30 anos em Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (FODTB) e em 10 anos em Floresta de Restinga. O manejo agrícola itinerante não afeta significativamente as características químicas dos solos de Restinga e FODTB. Os efeitos imediatos em função da deposição de cinzas, não se mantêm ao longo do ciclo de pousio. Aparentemente, as condições edáficas e hidráulicas de cada Restinga específica apresentam limitações que impõem o tipo de comunidade vegetal que nelas será desenvolvida. Já nas áreas em FODTB a partir de 60 anos de pousio, as florestas secundárias apresentaram características equivalentes às florestas preservadas, porém alguns parâmetros relevantes para avaliar a dinâmica florestal como a proporção de espécies zoocóricas e de pioneiras já foram atingidos a partir de 5 e 30 anos, respectivamente, quando 21 e 56% das espécies arbóreas do local já se encontrava restabelecida. Considera-se que as florestas secundárias formadas pelos sistemas de agricultura itinerante além de darem suporte às populações tradicionais contribuem à conservação de recursos naturais por manterem a cobertura florestal nativa, garantindo conectividade e reduzindo o efeito de borda sobre as florestas preservadas. Além disso prestam serviços ecossistêmicos como estocagem de carbono, provisão de alimentos para a fauna associada e ciclagem de nutrientes. Conclui-se que os SAIs estudados mantêm a fertilidade do solo, recuperam os estoques de carbono perdidos pelo corte e queima da biomassa acima do solo e, contribuem à conservação diversidade De outro modo, parecem ser necessários ajustes no planejamento desta atividade para que o tempo de pousio seja suficiente. No atual estado de conhecimento, a manutenção das inúmeras modalidades de SAIs não pode ser categorizada como benéfica, danosa ou neutra ao conjunto das implicações envolvidas nas relações humanas ou à ecologia florestal, na área de abrangência do presente estudo.