Exigências e organização do trabalho em sala de controle de processo com automação microeletrônica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1995
Autor(a) principal: Paraguay, Ana Isabel Bruzzi Bezerra
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-05022018-143142/
Resumo: Esta tese propõe-se a analisar o trabalho prescrito e o trabalho real de controle de processos com SDCD - Sistema Digital de Controle Distribuído, em uma refinaria paulista. As indústrias de processo caracterizam-se pela continuidade do processo produtivo e por serem altamente capital intensivas, automatizadas e integradas; e pelas matérias-primas, processos de produção, equipamentos utilizados, critérios de produtividade, que são específicos deste tipo de indústria e circunscrevem processos de trabalho também específicos. A caracterização teórica do trabalho em sala de controle de processos é feita a partir da variabilidade da atividade dos operadores, os longos períodos de supervisão do processo sem necessidade de intervenção, o trabalhador e o trabalho coletivo, a incerteza permanente e o perigo, inerentes ao processo de produção. As fontes de variabilidade podem ser próprias ao trabalhador (e particularmente ligadas ao trabalho em turnos alternantes) e ao processo (instabilidade dos processos físico-químicos), e ambas influenciam a atividade real de controle de processo (estratégias operatórias, interdependência de operadores de sala de controle-área, complexidade da elaboração de uma representação do estado real do processo e exigência de atualização contínua desta). Os métodos e técnicas de coleta e análise de dados utilizados foram: apresentação da pesquisa/pesquisadora; entrevistas individuais assistemáticas e sistemáticas; visitas às duas áreas de processamento; caracterização da população (refinaria, turnos, operação, operadores da sala de controle nova); observação assistemática e sistemática em sala de controle, com filmagens e gravação de períodos da atividade em situação real de trabalho; questionário individual auto-aplicado; consolidação dos dados. Os operadores pesquisados (de 2 Unidades de processamento completamente instaladas na nova sala de controle) caracterizavam-se por: alta estabilidade no emprego; faixa etária jovem; escolaridade de 3° grau completo ou colégio técnico completo; tempo de trabalho em turnos (TT) acompanhando o tempo de empresa; perfil hipotético de ausentismo-doença deste sub-grupo dado pelas doenças dos grupos de CID III, VII, IX e XIII, que apresentaram em TT percentual de dias perdidos, em 1993, igual ou superior ao dobro do horário administrativo; tendência evolutiva estimada de se aposentarem cada vez mais velhos, embora com idades que ainda variam de 40-54 anos. A avaliação qualitativa das vantagens e desvantagens da nova sala de controle apontou diferenças entre os operadores das 2 Unidades nela instaladas. A Unidade de Craqueamento apresentou maior valorização geral positiva da sala, em relação à Unidade de Destilação e ambas convergiram na valorização de dois atributos: \"mais moderna\" e \"mudança de ambiente sala-área\". Os itens negativos consensuais (com percentual de respostas inferior aos positivos) foram: exigências de maior atenção, por falta de pessoal; comunicação ruim, insuficiente, sobretudo em emergências; fadiga visual; muita responsabilidade, por estar sozinho; perda de contato com área. O trabalho real de controle de processo é descrito e analisado a partir de cinco categorias gerais: supervisão do processo (acompanhar, antecipar e controlar anomalias e desvios das especificações, corrigir desvios); centralização do controle de processos; indícios e representações do processamento e da área; alarmes e situações de emergências; o que muda na nova sala de controle; riscos, medo. A atividade é analisada mais finamente a partir da conceituação de planos de ação básicos: rendição do turno, papel da supervisão, \"não precisa nem entrar na sala para saber\", em que se evidenciou tanto atividades de rotina (prescritas e reais) e respectivas exigências cognitivas (verificar, diagnosticar, conhecer e antecipar a rotina e disponibilidade da equipe), dentro de uma hierarquia de informações disponíveis ou procuradas e de uma iniciativa e responsabilidade coletivas, como parte destes conhecimentos serem de natureza implícita, tácita, oriundos de experiências nem sempre verbalizadas ou passíveis de verbalização. Confirma-se a evolução do papel dos operadores em sala de controle com SCDC para o de integração e não somente regulação do sistema de produção, e, como tal, altamente dependente do contexto sócio-técnico em que se dá. Neste sentido, retoma-se o conceito de distribuição móvel de funções (em oposição ao de posto fixo), a importância dos locais e espaços de trabalho e a integração social decorrente e inseparável da atividade de trabalho propriamente dita, e, portanto das repercussões sobre a saúde, a médio e longo prazo, que não se dissociam do trabalho em turnos e também configuram traços no conteúdo da vida no trabalho e fora do trabalho.