Discurso flexível, trabalho duro: o contraste entre o discurso de gestão empresarial e a vivência dos trabalhadores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Bernardo, Marcia Hespanhol
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-15102006-195023/
Resumo: Nas últimas décadas, tem-se observado nos meios de comunicação e, sobretudo, na literatura de gestão empresarial, o predomínio de um discurso que afirma a superação do rígido taylorismo-fordismo por um modelo de organização do trabalho mais ‘flexível’, que também seria mais humanizado. Nota-se que os temas centrais desse discurso – competência, participação, trabalho em equipe e autonomia – dizem respeito a aspectos que, historicamente, fizeram parte das reivindicações dos trabalhadores. Na pesquisa apresentada aqui, esses temas foram utilizados como eixo para a análise comparativa entre tal discurso e a vivência dos trabalhadores em duas montadoras de automóveis que adotam o modelo japonês de produção (ou toyotismo), que tem sido a principal referência para a idéia de flexibilização. Foram realizadas entrevistas abertas (individuais e coletivas) e mantidas conversas informais com trabalhadores e sindicalistas, bem como participação em atividades promovidas pelo sindicato e pesquisa documental. A análise dos dados obtidos no trabalho de campo permitiu concluir que os temas introduzidos no discurso empresarial em nada têm que ver com humanização e, sim, com a exploração máxima da força de trabalho. As noções de competência, participação, equipe e autonomia servem para justificar a introdução de mecanismos tais como os critérios ideológicos, pessoais e sociais nos processos de seleção e avaliação; individualização das relações de trabalho; utilização da capacidade cognitiva dos trabalhadores em prol da produção e sua maior responsabilização pela qualidade dos produtos. O recurso a tais temas também busca desmobilizar a organização coletiva dos trabalhadores a fim de evitar que façam oposição. O discurso empresarial assume, assim, o papel de legitimar o poder das empresas, que é mantido, sobretudo, pela ameaça de desemprego e “administrado" (Bihr, 1998) por meio de mecanismos disciplinares típicos do taylorismo e dispositivos de controle mais sofisticados que visam à “modulação" (Deleuze, 1992) dos trabalhadores de modo a conseguir que utilizem sua inteligência e sua criatividade para os interesses da produção. Concluiu-se que as características do modelo de organização adotado nas empresas focalizadas na pesquisa têm como principais decorrências a ampliação do sofrimento mental e do adoecimento dos trabalhadores. Por outro lado, também se observou que o sindicato adota novas estratégias para combater o discurso e a prática das empresas e que muitos trabalhadores utilizam táticas cotidianas que configuram uma “rede de antidisciplina" (Certeau, 1996) que se contrapõe aos aspectos da organização do trabalho que lhes são desfavoráveis.