Psicanálise e cuidados paliativos na oncologia: efeitos da construção do caso clínico para uma equipe de saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Fagundes Netto, Marcus Vinicius Rezende
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-17012023-124724/
Resumo: Os cuidados paliativos é uma especialidade médica e área de atuação multiprofissional que tem como principal objetivo controlar e manejar os sintomas de uma doença incurável e ameaçadora da vida, com vistas â promoção de qualidade de vida. Além disso, por mais que essa terapêutica coloque-se como uma forma ideal de tratamento para as doenças crônicas incuráveis tais como diabetes, HIV, Doença Pulmonar Obstrutiva, dentre outras, os cuidados paliativos ainda se encontra muito atrelado ao tratamento de pacientes oncológicos. Afinal, o câncer já se configura como um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano, representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo. Ou seja, independente dos avanços técnico-científicos para o diagnóstico e tratamento de neoplasias, que muitas vezes podem ser curadas, o câncer ainda é em alguns casos uma doença incurável e ameaçadora da vida. Assim, a clínica com pacientes oncológicos, convoca o analista, que encarnado na figura do psicólogo integra uma equipe multiprofissional a também dialogar com essa especialidade que se define como um cuidado integral centrado no paciente. Por integral, entende-se que o sofrimento extrapola a esfera física do cuidado e, portanto, os âmbitos espirituais, emocionais e socioeconômicos da vida do paciente também devem ser abordados por profissionais especializados. Ora, se os cuidados paliativos pauta sua ação em um cuidado integral centrado no paciente por meio de uma equipe interdisciplinar, na qual a psicologia, sem sombra de dúvidas, tem um lugar cativo, poderíamos nos antecipar e afirmar que esse seria um terreno fértil e sem resistências ao discurso da psicanálise. Todavia, sendo os cuidados paliativos uma especialidade médica, esta encontra-se regida pela moral aristotélica - a ética do Bem supremo -, subvertida por Jacques Lacan, quando o autor propõe que a ética da psicanálise é a ética da verdade do sujeito. Além disso, como toda ética é relativa a um discurso, a ética médica, inclusive aquela que norteia a ação do paliativista, é pautada pelo discurso do mestre. Estando avisado disso, através de seu ato, o psicanalista pode vir a promover um giro discursivo de modo que a subjetividade, que fura o saber médico, possa não só ser escutada, mas elevada à categoria de um saber que pode dar uma nova tonalidade à condução do tratamento médico. Uma das possibilidades de método de aplicação da psicanálise no âmbito institucional, amplamente utilizada nos dispositivos substitutivos de saúde metal é a Construção do Caso Clínico, proposta inicialmente por Carlo Viganò (1999). Considerando nosso contexto institucional e as especificidades da clínica com pacientes oncológicos em cuidados paliativos, em nossa atuação a construção do caso clínico se dá a partir de três condições: sensibilização da equipe ao inconsciente como saber; reinserção da relação transferencial na clínica médica e a tomada do diagnóstico e do tratamento médico pela via significante. A partir disso, percebemos, em nossa experiência, que a construção do caso clínico tem um efeito transformador, naquilo que diz respeito a posição subjetiva da equipe de saúde frente ao corpo que insiste em não ser apenas organismo, diante da relação transferencial estabelecida com os pacientes e familiares e ao se deparar com a inevitabilidade da morte. Como método que possibilitou o delineamento deste estudo, realizamos levantamento bibliográfico sobre o tema, registramos aquilo que for escutado nos atendimentos, interconsultas e reuniões clínicas em diários metapsicológicos, assim como proposto por Iribarry (2003). A partir disso, realizamos a análise e discussão dos dados coletados, utilizando os conceitos fundamentais da psicanálise, bem como, por vezes, a teoria dos discursos proposta por Lacan(1969-70/1998), com vistas a investigar os efeitos da construção do caso clínico como método de trabalho em uma equipe de saúde nos cuidados paliativos oncológicos.