Psicanálise e hospital: desafios para o psicanalista frente à lógica do discurso capitalista

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Camargo, Paula Maia Peixoto
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-15022023-192055/
Resumo: Este trabalho parte da premissa de que o conceito de saúde norteia as ofertas de cuidado em uma instituição e, como tal, está permeado por ideais de bem-estar que incidem nos modos como são elaborados os dispositivos de atenção à saúde. O mesmo incorre no campo da saúde mental, ou seja, no que concerne ao sofrimento psíquico. A pesquisa analisa a teoria dos discursos de Jacques Lacan no hospital, visando investigar as consequências do discurso capitalista para o estatuto da produção e do tratamento do sofrimento correspondente à própria lógica discursiva, a fim de elucidar os desafios que dizem respeito à ética do sujeito em psicanálise. O que sustenta essa hipótese de pesquisa é a compreensão de que o mal-estar na instituição se autorregula no âmbito das respostas ofertadas, as quais corroboram sua manutenção. Entendemos que a política do discurso capitalista promove tanto um arranjo particular dos modos de funcionamento institucionais quanto subjetivos. A partir daí, extraímos as propriedades do discurso capitalista para fundamentar o que designamos desafios para o trabalho do psicanalista no hospital. Apresentamos essa análise através de quatro eixos: 1) Indivíduo eficaz e gestão: servimo-nos da inversão entre o significante mestre (S1) e o sujeito ($) na passagem do discurso do mestre ao capitalista para situar a mutação do sujeito ao indivíduo e a abolição da divisão subjetiva. 2) Medicalização: articulamos o objeto a à função psiquiatria ao identificarmos o estatuto do objeto no discurso capitalista com o que é produzido pelo saber tecnocientífico. Nesse sentido, a psiquiatria torna-se representante de um campo que promove ofertas de produtos frente às demandas configuradas pelos ideais de saúde. 3) Supereu: analisamos o circuito do supereu na relação com o discurso capitalista, na medida em que essa instância parece propulsionar esse discurso a partir de suas injunções de gozo. 4) Temporalidade lógica: apresentamos a ausência de ruptura no discurso como promotora de uma mutação no tempo: nonstop! a nosso ver, esse eixo impõe desafios para a clínica do sujeito, afinal, quando não há intervalo, há sujeito? Por fim, analisamos a especificidade do discurso do psicanalista frente ao que constitui os seus desafios na vertente clínica e institucional. Concluímos que esse discurso possibilita introduzir um corte no discurso capitalista diante da posição que o psicanalista assume na relação com o outro; posição essa que privilegia incluir o que o discurso capitalista exclui, a saber: a dimensão do real. Restitui-se, então, um lugar para o sujeito, ao mesmo tempo em que identificamos o potencial de contribuição do psicanalista na gestão, dado que a inclusão do real favorece os modos de enfrentamento do que se constitui como problemas institucionais pela lógica gerencialista. Depreende-se, assim, a dimensão da ética da psicanálise como orientadora da escuta e da construção das situações clínicas, denotando uma práxis particular no campo institucional