Das (im)possibilidades do feminino: a sexualidade de mulheres com transtornos alimentares na perspectiva das adolescentes, suas mães e seus pais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Leonidas, Carolina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-25022019-113840/
Resumo: Os transtornos alimentares (TAs) são caracterizados como graves perturbações no comportamento alimentar, que podem resultar em prejuízos biológicos, psicológicos e sociais. A prevalência é substancialmente maior no sexo feminino e os sintomas eclodem predominantemente na adolescência, coincidindo com a transição psicossocial que marca essa etapa do ciclo vital e a intensificação das vivências sexuais. Sob a ótica da psicanálise, os TAs podem ser compreendidos como respostas somáticas a estados de tensão emocional desencadeados por processos mentais que não puderam ser simbolizados. Essa dificuldade de simbolização parece estar relacionada à impossibilidade da adolescente se individuar, o que necessitaria da assunção de um corpo e uma mente de mulher adulta. A fusão psíquica e decorrente angústia de separação em relação à figura materna também estão relacionadas com as representações inconscientes da feminilidade: a irrupção da sexualidade na adolescência leva a menina a vivenciar um luto pela perda do corpo infantil que, assim como os pais da infância, está sendo deixado para trás. Partindo-se da hipótese de que o sintoma da recusa alimentar pode ser considerado como uma defesa inconsciente utilizada para obliterar o processo de separação-individuação, que é parte inerente ao desenvolvimento emocional, o presente estudo teve por objetivo investigar o desenvolvimento da sexualidade e da feminilidade em mulheres que desenvolveram TAs, na perspectiva das pacientes, de suas mães e de seus pais, buscando estabelecer relações entre esses aspectos fundamentais da constituição subjetiva e os sintomas que caracterizam o quadro psicopatológico. Trata-se de um estudo de caso coletivo, descritivo e transversal, com enfoque qualitativo. As participantes eram adolescentes e jovens adultas com TAs, vinculadas ao Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP), e seus respectivos pais (casal parental, entrevistados em separado), totalizando sete tríades edípicas. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram: roteiro de entrevista semiestruturada, aplicada individualmente com cada membro da tríade; diário de campo, elaborado pela pesquisadora após as entrevistas; e Critério de Classificação Econômica Brasil/2015. As entrevistas foram gravadas em áudio para posterior transcrição e análise temática. Os dados foram interpretados com o apoio do referencial teórico da psicossomática psicanalítica de Joyce McDougall. Os resultados demonstraram que a dinâmica psíquica das tríades era marcada por fusão entre mãe e filha, e distanciamento afetivo do pai. A feminilidade era vivenciada tanto pelas filhas quanto pelas mães como equivalente à vulnerabilidade, tornando-se fonte de angústias. Para os genitores do sexo masculino, a feminilidade das filhas foi vivenciada como ameaçadora, suscitando afastamento entre pai e filha na época da puberdade. Evidenciou-se dificuldades, por parte das filhas, no acesso à genitalidade, que guarda relação com a dificuldade no processo de individuação e separação em relação aos pais da infância. Os achados proporcionam insumos para a prática clínica no que concerne à articulação entre as vivências relacionadas à sexualidade/feminilidade e a precipitação e manutenção dos sintomas de TAs, proporcionando uma compreensão mais abrangente dos aspectos psicológicos por parte dos profissionais envolvidos na assistência, prevenção e promoção de saúde na adolescência.