Psicanálise e práticas espirituais de cura: o inconsciente e a comunicação mediúnica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Mantovani, Alexandre
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-03102011-141256/
Resumo: O tema da comunicação é um assunto relevante em psicanálise. Diferente de uma conversa comum, quando é possível identificar a posição do emissor e do receptor da mensagem, em psicanálise há uma opacidade para localizar esses elementos do processo de comunicação. Isso porque na situação analítica o paciente se dirige ao analista como uma figura construída a partir de sua realidade psíquica. A mensagem não é clara, mas cifrada em formações e processos inconscientes. Alguns conceitos como contratransferência, identificação projetiva e rêverie, sugerem a existência de processos comunicativos inconscientes. Esse é um assunto polêmico que gera debates a respeito das possíveis trocas inconscientes entre analista e paciente. O objetivo deste trabalho foi investigar a aplicação destes conceitos na investigação das práticas de cura espiritual, pois nesse contexto há fenômenos que sugerem a ocorrência de formas inefáveis de comunicação. Como estratégia de método foi adotada a pesquisa-participante realizada em um terreiro de umbanda e um centro espírita, ambos da cidade de Ribeirão Preto-SP. Foram também realizados atendimentos clínicos com a finalidade de comparar as formas de comunicação presentes em psicoterapia e nos ritos de cura. Estes atendimentos ocorreram tanto nos centros religiosos e em consultório particular. Os dados foram analisados utilizando-se modelos de inspirados nos conceitos de contratransferência, identificação projetiva e fenômenos transicionais e também nas contribuições da psicopatologia fundamental. Para análise dos resultados, levou-se em conta a experiência do pesquisador nos dois centros para se compararem os dados. Também foram feitas comparações entre a experiência do pesquisador nos centros e nos atendimentos em consultório particular. Em ambos os centros obtiveram-se situações relevantes para a pesquisa. Os dados mostram que a comunicação não-verbal é proeminente nas práticas espirituais de cura. As sensações corporais, assim como os gestos são elemento fundamental na comunicação mediúnica. Constituem-se como sinais de reconhecimento da presença de espíritos e também contribuem para os processo comunicativos dentro do grupo de participantes do culto. Na interação entre consulentes, médiuns e espíritos surgem narrativas que suscitam a formação de imagens significativas para o atendimento. A comparação entre atendimentos espirituais e atendimentos clínicos mostrou ser possível utilizar a psicanálise para a construção de modelos teóricos aplicáveis ao estudo do ritual sem incorrer em reducionismos teóricos. Foram definidos dois modelos teóricos para a discussão dos dados. Um modelo é referente às formas de comunicação ocorridas por via de sensações físicas e foi definido como o circuito comunicativo sensorial. O outro modelo foi chamado de via onírica e é referente aos processos que envolvem pictogramas e palavras. Os modelos foram inspirados nos conceitos psicanalíticos e servem para a interpretação de eventos que ocorrem tanto em psicoterapia quanto nas práticas espirituais de cura.