Na contracorrente? Resistências, adaptações e apropriações: a formação do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - 1962-1965

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Alarcão, Gustavo Gil
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-31102018-102140/
Resumo: Este trabalho constrói uma história crítica da formação do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo entre 1962 e 1965. O Serviço foi criado como um espaço institucional para a prática e para o saber em psicoterapia dentro de um dos principais hospitais psiquiátricos brasileiros, num período muito turbulento da história nacional, atravessado pelo golpe civil-militar de 1964. A psicoterapia como prática e saber situase numa zona de fronteiras entre a psiquiatria, psicanálise e a psicologia. Para compreender essa posição, recorreu-se ao conceito de vagueza, que mostra a necessidade de contextualizar a psicoterapia para precisar seu significado. Não há uma história crítica da psicoterapia no Brasil, e mesmo estudos internacionais não focalizam essa complexidade. Traçou-se uma rota de pesquisa que levou à necessidade de compreender como se comportavam os principais agentes envolvidos na formação do Serviço dentro do hospital psiquiátrico chefiado por Antônio Carlos Pacheco e Silva, destacado psiquiatra da época, reconhecido por seu peso político e por suas ideias higienistas e eugenistas e crítico da psicanálise, a corrente de psicoterapia mais relevante da época. Para entender os vários eixos históricos da formação do Serviço, estudaram-se a estruturação da psiquiatria, da psicanálise e da psicologia como saberes, técnicas e instituições em São Paulo entre 1936 e 1970 e também a forma como os agentes circulavam entre essas áreas. Único ramo de psicoterapia em São Paulo até os anos 1950, a psicanálise atraía muitos médicos e psiquiatras e influenciou Jorge Wohwey Ferreira Amaro na formação do Serviço, embora ele afirme que procurou criar um espaço eclético, onde pudessem circular várias linhas de psicoterapia, que transformariam a \"achoterapia\" praticada no hospital - onde cada psiquiatra agia como lhe parecia - num trabalho baseado em referenciais técnicos e teóricos mais estruturados. O estudo analisa como esses campos dialogavam com a sociedade da época e em que medida a situação macroscópica se refletia no microcosmo do Hospital e do Serviço. Discutindo eventos importantes como o concurso para primeira cátedra de psiquiatria na FMUSP, em 1936, o I Congresso Latino-Americano de Saúde Mental, em 1954, o V Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, em 1967, e o V Congresso Internacional de Psicodrama e o I Congresso de Comunidade Terapêutica, em 1970, foi possível entender a dinâmica das profissões da psique na época: suas concorrências e seu posicionamento político e institucional, que permitiram entender que a criação do Serviço de Psicoterapia Médica da Clínica Psiquiátrica da FMUSP marcou a posição médica no campo psi de então. Ainda que os discursos procurassem situá-lo na contracorrente de seu tempo e mesmo que o Serviço representasse uma abertura para a circulação de saberes, técnicas e profissionais, ele se inseriu na estrutura da instituição psiquiátrica sem questionar as práticas ou as ideias vigentes