Um estudo psicanalítico sobre a constituição da maternidade em mulheres que apresentaram transtornos mentais no puerpério

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Takushi, Angelica Lie
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-30072010-112024/
Resumo: Atualmente nos deparamos com um grande número de mulheres que apresentaram transtornos mentais após o nascimento de seu bebê, durante o período do puerpério. Trata-se de uma situação que pode trazer importantes consequências, como o prejuízo do desenvolvimento do bebê ocasionado a partir de uma relação mãe-bebê prejudicada, uma vez que a constituição do sujeito passa pelas primeiras experiências que ele tem com seu primeiro objeto, a figura materna. O presente estudo tem como objetivo compreender o processo de constituição da maternidade dentro de sua articulação com a constituição de sujeito e da feminilidade em mulheres que apresentaram transtornos mentais no puerpério, assim como as questões que possam ter contribuído para o desencadeamento desses transtornos. Trata-se de uma pesquisa clínica, na qual se utilizou o método psicanalítico para a análise do material, que foi obtido por meio de sessões de psicoterapia com duas mulheres atendidas com essa questão pelo período de quase dois anos em uma Unidade Básica de Saúde. A análise do material clínico mostrou que há uma intensa ambivalência na relação dessas pacientes com suas mães, marcada pelos sentimentos de amor e ódio, sendo que, na realidade psíquica das pacientes, há uma grande hostilidade por parte da mãe. Há uma intrusão materna que se configura como excesso, sendo o excesso entendido aqui como uma violência operada pelo discurso materno, que compreendemos a partir das concepções de Piera Aulagnier. Dentro dessa relação marcada pela ambivalência e principalmente pela violência, que deixaram profundas marcas no psiquismo das pacientes, houve uma frágil constituição de sujeito e de feminilidade, o que acabou provocando o desencadeamento dos transtornos mentais a propósito do nascimento de seus filhos, da constituição de suas maternidades, momento em que há uma identificação maior com a figura materna. Trabalhamos a questão do matricídio enquanto uma separação da mãe na vida psíquica, concepção trazida por Danièle Brun, que, também podemos entender como um desfusionamento do corpo materno, um processo necessário para que a filha possa adquirir autonomia em relação à mãe e caminhar rumo a sua feminilidade, poder ser mulher, adulta, mãe. O masoquismo também foi encontrado nas pacientes e compreendemos esse masoquismo como o elaborado por Claude Le Guen, como uma defesa da menina contra essa ambivalência que ela encontra nas suas relações com o objeto materno, uma forma de ela preservar o objeto, voltando a agressividade para si, ao mesmo tempo em que recebe um maior investimento objetal, ao mostrar-se mais dócil. Consideramos que para as mulheres deste estudo o processo psicoterápico pôde proporcionar a oportunidade de que questões que não podiam ser sequer pensadas, como a violência e intrusão materna, o desejo de matricídio, infanticídio, pudessem ser elaboradas e inseridas em uma rede de representações psíquicas, dando significados e ajudando as pacientes a entenderem o processo que estavam vivenciando, podendo trabalhar essas questões, elaborar a experiência da maternidade e tudo o que ela abarcava