Corpo e presença na Bíblia Sagrada

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Cardoso, Dario de Araujo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-21022018-104542/
Resumo: Nesta tese, explicitamos os mecanismos de produção de sentido que discursivizam a Bíblia Sagrada como Palavra Revelada de Deus. Mostramos como o texto bíblico, na qualidade de enunciado marcado por pessoa, tempo e espaço definidos, constrói para si o sentido de discurso omnipessoal, omnitemporal e omniespacial promovendo o processo de significação e de permanência que o qualifica como texto fundador do cristianismo. Defendemos a tese de que o texto bíblico discursiviza de modo peculiar o mundo divino e seus atores e produz, em termos de presença, um impacto que mobiliza o enunciatário, como corpo sensível, a um fazer interpretativo que o sanciona e acolhe o conhecimento apresentado como Palavra Revelada de Deus. Dessa maneira, o discurso promove uma transformação no estado epistêmico do enunciatário e demanda dele uma resposta cognitiva e ética orientada pela axiologia cristã. Discutimos a formação e a delimitação do corpo actorial nas narrativas bíblicas do Evangelho de Lucas e em Atos dos Apóstolos. Utilizando o conceito de narratividade da enunciação, defendemos que esses textos constroem, por meio da enunciação enunciada, uma peculiar cena enunciativa em que o enunciador é o sujeito de uma performance que constitui o mundo divino, em que Deus é o arquienunciador e o Destinador transcendente. Esse movimento promove o estabelecimento de um contrato de veridicção também peculiar que faz com que o sobrenatural seja a expectativa do gênero e o meio de configuração e confirmação da presença divina. O deslocamento actancial do enunciador para um destinador compatível com a Palavra Revelada funda-se no conceito greimasiano de Destinador transcendente. Permeiam, pois, os movimentos de garimpo feito da discursivização da Palavra Revelada a Semiótica de raiz greimasiana e, a partir do instrumental da Semiótica tensiva, descrevemos os efeitos subjetais promovidos pela discursivização da presença divina no texto bíblico. O encadeamento de programas narrativos promove um ritmo assomo-resolução que mantém a tensão e o impacto sensível ao longo do texto. É um ritmo que gera também no enunciatário um esforço em busca da reorganização afetiva, o que é descrito como um pervir sensibilizado que ampara a transformação do estado epistêmico do sujeito. Por fim, entendemos ter comprovado que é possível e é viável examinar a Bíblia como um discurso entre outros, de modo que essa transformação epistêmica seja o fundamento para uma série de mudanças cognitivas e éticas que dão suporte a práticas cristãs como a própria leitura bíblica, a que sucedem a memorização de passagens, a participação em estudos bíblicos e sermões e a divulgação do conteúdo e da ética cristã a não crentes.