Descendência japonesa e o bom desempenho em matemática: uma reflexão sobre as causas.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Canto, Cristina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-02032009-151542/
Resumo: O bom desempenho dos descendentes de japoneses em matemática não é novidade para a maioria das pessoas. As interpretações sobre as causas desse resultado podem, no entanto, ser divergentes. Com a intenção de desmistificar algumas concepções sobre tal tema iniciamos esta pesquisa. Para fundamentar tal intenção, buscamos inicialmente um levantamento de dados estatísticos que caracterizassem nosso ponto de partida, recorrendo aos bancos de dados de instituições responsáveis pelos vestibulares de duas das maiores universidades públicas do país a USP e a UNESP (respectivamente, a FUVEST e a VUNESP). Tal levantamento confirmou amplamente a sensação inicial, no que se refere ao desempenho diferenciado dos descendentes de japoneses. A partir daí, partimos em busca dos motivos que poderiam justificar os fatos observados. Nossa hipótese foi a de que os fatores culturais envolvidos seriam decisivos na interpretação de tal desempenho. Mesmo tendo tal perspectiva como ponto de partida, transitamos por variados territórios, em que a discussão sobre características genéticas ou inatas se fazia presente, amealhando argumentos que justificassem a hipótese inicial. Em tal busca, Keith Devlin e seu livro O Gene da Matemática desempenharam um papel fundamental. Tendo por base os fatos apresentados nesse livro, perceberemos também que não se trata de desconsiderar as capacidades biológicas inatas, e sim de entender que, no caso da aprendizagem de matemática, tais capacidades são partilhadas por todos os seres humanos, de modo análogo ao que ocorre com a competência para aprender a língua materna. Voltando-nos então para a discussão sobre a influência da cultura sobre o processo cognitivo, buscamos entender o modo como os elementos culturais influenciam a valorização da educação, favorecendo especificamente a relação entre os estudantes e a matemática. Em sua vida escolar no Japão, ou transcendendo fronteiras, como no caso dos descendentes de japoneses que vivem no Brasil os alunos educados segundo tais princípios desenvolvem sentimentos e relações afetivas favoráveis com a escola, revelando uma grande influência da cultura na formação pessoal. Na história do Japão, buscamos o modo como certos fatores, como a fragilidade geográfica e os parcos recursos naturais, foram importantes elementos que contribuíram para a valorização da educação. No caso específico dos descendentes nipo-brasileiros, podemos perceber que alguns elementos culturais originais, como o respeito à hierarquia, a ética do débito, a religiosidade, que aparecem fortemente na constituição do ser japonês, apesar de transformados pela assimilação de traços característicos da cultura brasileira, ainda apresentam resíduos importantes em seus descendentes. Complementarmente, um novo fator aparece fortemente como motivador dos alunos descendentes de japoneses, no Brasil: a busca da ascensão econômica, e conseqüentemente profissional, por meio da educação faz com que esses alunos atuem com bastante empenho em prol desse projeto de vida. Tais sentimentos impulsionam os alunos no sentido de valorizar o esforço, a vontade, a dedicação ao enfrentarem as naturais dificuldades encontradas em seu percurso escolar. Concluímos nosso percurso com a expectativa de haver evidenciado o peso decisivo dos elementos culturais na interpretação dos resultados diferenciados obtidos entre nós pelos descendentes de japoneses.