A pena do cronista: a presença das crônicas nos romances machadianos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Sousa Neto, Dário Ferreira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-05082015-155740/
Resumo: A Pena do Cronista tem como proposta evidenciar a contribuição do gênero crônica na produção ficcional de Machado de Assis. Tendo como pressuposto duas fases distintas na produção romanesca do escritor carioca já exaustivamente pontuadas pela crítica literária machadiana, a análise deste trabalho desenvolve a hipótese de que a mudança na forma romanesca a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas tem implica o uso dos procedimentos composicionais desenvolvidos nas crônicas. Para tanto, o objetivo dessa tese é compreender, a partir da análise estrutural do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas e das crônicas Comentários da Semana, Crônicas de O Futuro, Ao Acaso, História de Quinze Dias, História de Trinta Dias e Notas Semanais, os modos de produção ficcional desenvolvidos pelo autor. Desse modo, respaldando-se na narratologia de Gerard Genette, sobretudo nos conceitos de metalepse e as cinco funções do narrador - de regência, testemunhal, narrativa, de comunicação e ideológica -, a análise desenvolveu a compreensão estrutural dos quatro romances anteriores da chamada primeira fase - Ressurreição, A Mão e A Luva, Helena e Iaiá Garcia - (os quais compõem a chamada primeira fase) e os três posteriores - Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro para evidenciar suas particularidades composicionais e observar a contribuição do gênero crônica na produção romanesca machadiana. Partindo da análise dos primeiros textos escritos em prosa e publicados no jornal Marmota Fluminense, buscamos compreender os modos de utilização dos procedimentos retóricos baseados em Oliver Reboul, Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca. Para compreender os diferentes modos técnicos composicionais nas crônicas, utilizamo-nos dos conceitos de discurso polêmico, dialogismo e polifonia recorrendo a trabalhos do círculo de Bakhtin, ao conceito de corporalidade, de Dominique Maingueneau, de performatividade de Paul Zumthor e de autor implicado de Wolfgang Iser e Paul Ricoeur. Em capítulo específico tratamos do conceito de boato desenvolvido por Jean-Noël Kapferer, observando tanto a conceituação quanto a utilização desse procedimento nas crônicas, bem como o recurso ficcional do boato aplicado no romance Dom Casmurro em três perspectivas: o boato do autor suposto, o boato do romance e o boato produzido pelas leituras do romance. Por fim, para estabelecer as diferenças entre os modos de produção das crônicas e dos romances, utilizamos os conceitos de poder, disciplina, panóptico, verdade, método arqueológico, método genealógico, perspectivismo e arbitrariedade de Michel Foucault e os conceitos de esquizoanálise, significante despótico, multiplicidades rizomáticas e multiplicidades arborescentes de Guilles Deleuze e Félix Guattari. Essa diferenciação permitiu-nos propor que, nas crônicas, o autor faz uso rico desses procedimentos como meio de questionar os lugares de produção dos discursos de verdade das instituições científicas, políticas e religiosas do Brasil Império; e, supostos esses sujeito discursivo e procedimentos técnicos, o modo como o autor transforma em objeto de análise esse lugar de produção da verdade nos três primeiros romances da segunda fase.