Caracterização epidemiológica, clínica e virológica da infecção pelo HBV entre pacientes do Espírito Santo, uma área endêmica no Sudeste do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Motta, Tania Queiroz Reuter
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5168/tde-18072022-152432/
Resumo: Introdução: A infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) constitui problema de saúde pública global e é responsável por morbidade e mortalidade significativa. No Brasil, a endemicidade é geralmente baixa e moderada ou alta em algumas localidades, como em algumas áreas do Estado do Espírito Santo (ES). Fatores como idade no momento da infecção, genótipo do HBV, níveis de HBV DNA ao longo do tempo, mutações específicas no genoma viral e, possivelmente, polimorfismos na região do HLA do hospedeiro parecem influenciar a história natural do HBV. Objetivo: O objetivo deste estudo foi caracterizar os aspectos clínicos e epidemiológicos da infecção pelo HBV no Estado do ES e analisar a distribuição dos genótipos, subgenótipos e variantes com mutações nas regiões do promotor basal do core (BCP) e pré-core (PC) e sua associação com padrões clínicos e epidemiológicos da doença. Material e Métodos: Foram analisados 587 indivíduos acompanhados no Ambulatório de Infectologia do HUCAM entre julho de 2005 e julho de 2017. Dados demográficos, epidemiológicos e clínicos foram extraídos do prontuário. A fase clínica da hepatite B crônica considerada neste estudo foi avaliada em julho de 2017. Genotipagem do HBV foi realizada pela amplificação e pelo sequenciamento da região S/POL do genoma viral. A caracterização das regiões PC e BCP foi também realizada por sequenciamento nucleotídico. Resultados: A mediana de idade na população estudada foi de 48 anos, sendo 52,6% do sexo masculino e predominantemente (78%) natural do Estado do Espírito Santo, sendo a maior parte destes (47,7%) natural da região metropolitana do Estado. A provável via de transmissão foi identificada em 66,8% dos indivíduos, sendo a provável transmissão vertical identificada em 36,6%, intrafamiliar em 19,6%, sexual em 7% e sanguínea em 3,6%. Quanto ao HBeAg, 94%, eram negativos e 6%, positivos. As fases clínicas HBeAg negativo predominaram, sendo 54,9% portadores inativos e 37,6% hepatite B crônica ativa HBeAg-. A fase de imunotolerância foi observada em 2,6% dos indivíduos, e 3,4% estavam na fase de hepatite B crônica ativa HBeAg+. Foi possível amplificar e sequenciar 202 amostras para a caracterização do genótipo/subgenótipo do HBV: o genótipo A foi identificado em 65,3% (A1 = 63,9% e A2 = 1,5%; genótipo D em 32,7% = 27,7% D3, 4% HBV/D4 e 1% D2) e o genótipo F em 2%. Comparando apenas os subgenótipos mais frequentes A1 e D3, encontramos associação significante entre via de transmissão vertical e naturalidade fora do ES com o subgenótipo HBV/A1 e transmissão intrafamiliar e naturalidade no ES com o subgenótipo HBV/D3 (p<0,001). Entre os indivíduos nascidos no ES (n=155), as frequências dos subgenótipos foram similares às da população geral do estudo, entretanto, observamos aumento progressivo da frequência do subgenótipo A1 no sentido Sul-Norte do Estado e do subgenótipo D3 no sentido Norte-Sul do ES. De 202 amostras com genótipo/subgenótipo do HBV caracterizado, em 116, foi possível amplificar e sequenciar as regiões PC e BCP do HBV. A frequência de cepas com mutações BCP (nas posições A1762T e/ou G1764A) foi de 69% e na região PC (G1896A e/ou G1899A) foi de 24%. A frequência da mutação G1764A foi significativamente mais frequente no subgenótipo A1 em relação ao subgenótipo D3 (p=0,03). Mutações na região PC foram significativamente mais frequentes (p<0,01) no subgenótipo D3 (75%) do que no A1 (7%). Mutações nas regiões BCP + PC foram mais frequentes nas cepas genótipo D (48,1%) do que nas genótipo A (6,0%) - p<0,001. Na análise de associação entre outras mutações com relevância clínica na região da PC, mutações nas posições 1814-1816 foram mais frequentes nas formas clínicas HBeAg negativo (p=0,03). Conclusões: Os achados deste estudo sugerem o papel central da transmissão familiar do HBV no Estado do ES, em população predominantemente urbana, formas clínicas HBeAg negativo, e os genótipos encontrados foram A, D e F, com predomínio do subgenótipo A1 associado com transmissão vertical e subgenótipo D3 com transmissão intrafamiliar. Não observamos associação entre genótipos/subgenótipos com idade, sexo, status do antígeno HBeAg, HBV DNA e fases clínicas da doença. A presença de mutações na região da BCP (A1762T/G1764A) e PC (G1896A/G1899A) não se associou com idade, status HBeAg ou fase clínica da doença. A análise de associação evidenciou que a presença da variante G1764A se associou com genótipo HBV/A e que a presença de mutações clássicas na região PC isolada ou a dupla (BCP + PC) de mutação se associou com o subgenótipo D3 e com a baixa carga viral do HBV. As cepas com alteração no códon de iniciação para síntese do HBeAg (1814-1816 da região PC) se associaram com formas clínicas HBeAg negativo, e a presença da mutação G1862T se associou com o subgenótipo A1