Gasto energético de repouso em pacientes dependentes de nutrição enteral domiciliar por doença neurológica incapacitante

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Oliveira, Joyce Cristina Santos de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17162/tde-24082020-092642/
Resumo: Introdução: Várias doenças neurológicas resultam em limitações físicas incapacitantes, incluindo os distúrbios na deglutição com consequente inviabilidade do aporte nutricional por via oral. Se bem indicada e conduzida, a nutrição enteral domiciliar pode melhorar a qualidade de vida e reduzir a morbimortalidade nesses casos. A oferta energética é um aspecto fundamental no cuidado nutricional. Embora o gasto energético de repouso (GER) determinado por calorimetria indireta (CI) seja método mais preciso, na prática clínica a estimativa da necessidade energética baseia-se em cálculos feitos a partir de equações preditivas do gasto energético basal (GEB). Entretanto, a confiabilidade das equações preditivas é pouco estudada e os dados são controversos. Objetivo: Determinar o GER de pacientes com doença neurológica através de CI e comparar com equações preditivas. Casuística e métodos: Os pacientes elegíveis eram acompanhados no ambulatório \"Apoio à Nutrição Enteral Domiciliar\" de hospital público terciário no período entre janeiro de 2017 a dezembro de 2018. Foram incluídos os sujeitos com doença neurológica incapacitante em uso de nutrição enteral exclusiva. Foram documentados os dados demográficos, realizadas as medidas antropométricas e a análise da composição corporal por bioimpedância elétrica. O GEB foi calculado a partir das equações preditivas de Harris-Benedict, FAO/OMS e Miflin-St Jeor. O GER foi determinado pela equação de Weir a partir dos dados de CI. Foram feitas as associações (correlação de Pearson/Spearman), análise comparativa entre os resultados obtidos pela equação de Weir e os cálculos preditivos de GEB, além da análise de concordância pelo diagrama de Bland-Altman. A análise estatística descritiva e comparativa foi realizada utilizando software SPSS Statistics versão 20.0. O diagrama de Bland-Altman foi determinado de acordo com fórmula padronizada. Diferenças entre as variáveis foram consideradas significativas quando p &le; 0,05. Resultados: O estudo incluiu 19 pacientes com idade de 47 ± 21 anos, com diagnóstico de doença neurológica há 11 ± 13 anos e em uso de nutrição enteral domiciliar por 60 ± 67 meses. A maioria (70%) dos pacientes recebia nutrição enteral por gastrostomia e o restante por sonda transnasal, com oferta energética de 1597 ± 319 kcal/dia. O índice de massa corporal foi de 20 ± 4 kg/m2 e a circunferência da panturrilha foi 26 ± 5 cm, mostrando-se reduzida. A porcentagem de massa gorda corporal foi superior aos valores de referência (39 ± 11%), paralelamente à redução de massa corporal magra (61 ± 11%). O GER obtido pela CI foi de 1101 ± 347 kcal, estatisticamente semelhante à equação de Mifflin-St Jeor (1228 ± 268 kcal, p=0,134) e inferior às equações de Harris-Benedict (1278 ± 242 kcal, p=0,049) e FAO/OMS (1330 ± 242 kcal, p=0,007). Paralelamente, o GER foi calculado de acordo com o peso corporal (22 ± 6 kcal/kg) e com a quantidade de massa corporal magra (38 ± 17 kcal/kg de massa magra). Observamos correlação positiva entre os dados da CI e todas as equações preditivas (Harris-Benedict, p<0,01 e r=0,75; FAO/OMS p<0,01 e r=0,65; Mifflin-St Jeor p<0,01 e r=0,71). O diagrama de Bland-Altman mostrou que todos os dados plotados estavam no limite de concordância com a equação de Weir, com a exceção de um indivíduo nos casos das equações preditivas de Harris Benedict e Mifflin-St Jeor. As médias da diferença entre CI e as equações preditivas foram negativas, indicando predomínio da superestimativa do GEB obtido pela da equação de Harris-Benedict (-175,5 ± 228 kcal/dia), FAO/OMS (-228,9 ± 264 kcal/dia e Mifflin-St Jeor (-130,9 ± 242 kcal/dia). Em relação à CI, a adequação individual entre os dados obtidos pelas equações de Harris-Benedict, FAO/OMS e Mifflin-St Jeor foi de 47,4%, 26,3% e 21,1%, respectivamente. Conclusões: Nenhuma equação preditiva avaliada mostrou-se totalmente adequada para estimar o GEB de pacientes com doença neurológica. A equação de FAO/OMS mostrou-se inadequada em todas as análises realizadas. Por um lado, a equação de Mifflin-St Jeor apresentou semelhança estatística, correlação positiva e menor diferença porcentual em relação à CI. Por outro lado, a equação de Harris-Benedict apresentou maior porcentagem de adequação individual (47,4%), com ausência de subestimativa e, embora alta (52,6%), menor porcentagem de superestimativa que as demais equações preditivas. A partir dos dados obtidos, nós sugerimos utilizar fórmula de Harris-Benedict para cálculo do GEB, acrescida de fatores de correção individual. O acompanhamento nutricional individualizado deve ser realizado periodicamente a fim de permitir os ajustes necessários na oferta energética.