Escrever sem o apoio da língua oral: um estudo sobre textos de surdos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Trindade, Carla Samile Machado Trucolo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16032017-145328/
Resumo: Esta pesquisa toma como objeto de estudo o modo como um aluno surdo escreve, quando atende à solicitação de produzir textos dissertativos. Constituindo-se como um estudo de caso, busca investigar: 1) a natureza dos principais impasses presentes na escrita de um aluno que, antes de iniciar suas tentativas de se utilizar do sistema alfabético de representação, tinha como referência exclusiva uma língua gestual; e 2) a medida em que os desvios presentes nos textos do aluno apresentam uma lógica textual, ainda que tenham sido escritos sem o apoio da oralidade. Para dar forma à investigação, o trabalho analisou os principais desvios com relação à escrita convencional presentes em textos redigidos por um informante surdo que, à época de sua exposição à escrita, não contava com qualquer apoio de uma língua oral. Por meio do cotejamento de vinte e nove versões de textos, foram descritas as alterações nas hipóteses que o informante fez com relação aos modos de utilizar a língua escrita, em especial no que diz respeito aos aspectos formais e textuais de sua produção. A coleta dos dados foi realizada durante sete meses no contexto de oficinas de redação, oferecidas pelo Instituto da Oportunidade Social, na cidade de São Paulo, durante as quais foram trabalhadas onze propostas de produção de textos. A investigação partiu da hipótese de que a escrita de pessoas surdas, embora marcada por uma condição linguística peculiar, poderia apresentar textura, isto é, atender aos fatores de textualidade propostos por Fávero e Koch (1983), quais sejam: a intertextualidade, situacionalidade, aceitabilidade, informatividade, intencionalidade, contextualização, coerência e coesão. A partir da análise de dados, verificou-se que a escrita do aluno surdo se constitui de modo diferente do ouvinte, pelo fato de não contar com a oralidade e, também, de ter a língua de sinais como referência. Contudo, a disposição do aluno para aprender, a prática da reescrita e a posição adotada pela professora em suas intervenções foram determinantes para que a escrita do informante surdo passasse por movimentos que resultaram em expressiva melhora no trabalho com os aspectos formais e textuais de sua produção, corroborando para que houvesse textura em suas produções. Chamou a atenção, também, o fato de o aluno, em seu último texto produzido no contexto das oficinas de redação, relatar sua mudança de posição com relação ao processo de escrita. Assim, verificou-se que, mesmo sem o apoio da língua oral, a surdez não é uma condição determinante para o aluno na conquista do bem escrever.