Receitas literárias do Manual de Pellegrino Artusi: entre o método da raccolta e a arte do racconto

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Callia, Isabella Magalhães
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8148/tde-27022023-160845/
Resumo: A motivação desta tese é perscrutar a literatura presente nas receitas da célebre obra La Scienza in cucina e l\'Arte di mangiar bene - Manuale pratico per le famiglie, compilato da Pellegrino Artusi (que contou com 15 edições autorais entre 1891 e 1911). Mercante, homem de cultura, leitor escritor, o gastrônomo didático Pellegrino Artusi militou pela Questione Della Lingua, em favor do toscano-florentino. Uma obra, acima de tudo, voltada à instrução do convívio de uma burguesia emergente e comprometida em educar a palavra (a conversação) e o corpo (a comensalidade e os modos). Por ser um trabalho de natureza transversal, esses estudos pendulam entre os campos da História e Cultura da Gastronomia e da Língua, Literatura e Cultura Italianas. O Manual se fez valer de uma \"saborosa\" intertextualidade, que garantiu seu longevo frescor. Portanto, trata-se da investigação do que constituiria tais receitas e de como teriam sido \"servidas\" pelo autor, e, para tal, as reflexões do gastrônomo, crítico literário, filólogo, historiador e antropólogo Piero Camporesi, presentes na edição comentada de 1970, serviram de fio condutor dentre as sincréticas matérias distribuídas pelos cinco capítulos resultantes da pesquisa. Sem dúvida, igualmente o professor e especialista em História e Cultura da Alimentação, Alberto Capatti, com sua edição comentada de 2010, foi essencial para a tese, bem como as obras e aulas de Massimo Montanari, Giovanna Frosini e Elisabetta Menetti. O trabalho, por se acreditar introdutório a tais temas para o leitor brasileiro, privilegia, propositalmente, uma apresentação paratática. No período das investigações, dois aspectos autorais emergiram: o método de Artusi, que nomeamos de raccolta (colheita/coleta), que concedeu às receitas representatividade social por fomentar diálogo com o público leitor, e sua arte narrativa, nomeada de racconto, a qual se beneficiou da eficácia das formas breves, ao amalgamar concisamente referências literárias, anteriores à obra; o autor, dessa forma, ao mesmo tempo em que honra séculos de tradições, inova e consolida um novo gênero, uma vez que, a cada receita, horizontes de conhecimento são oferecidos. A propósito de tal natureza heterogênea, a obra pode ser entendida sob a alegoria do prato timballo, a qual incorpora aqui o conceito de cornice narrativa (moldura narrativa), pois vários racconti encontram-se envolvidos por um contexto comum. Nessa alegoria, a massa representa a voz do autor, pois é invólucro - a macroestrutura da obra, sua cornice. -, e também parte de um recheio de ecléticos ingredientes - as unidades mínimas narrativas que a compõem. Sendo assim, tanto uma fatia do timballo quanto uma receita do Manual de Artusi são suficientes para se captar o todo, pois ambas performam a operação totum pro parte. Um meta procedimento narrativo que elevou a comida ao papel de mediadora, para instruir deleitando as cidadãs e os cidadãos \"por fazer\", de uma Itália recém-unificada; em outras palavras, essas seriam receitas de italianidade prenhes de literatura.